Teatro

Jon Fosse pelos Artistas Unidos, entre a vida e a morte

12 março 2023 17:49

“Foi Assim” é, sob a forma de monólogo, uma meditação sobre a vida, a morte e a religião, e sobre as dúvidas e hesitações que vêm com a maturidade. No Teatro da Politécnica, em Lisboa, de 14 de março a 15 de abril

12 março 2023 17:49

Depois de um ensaio, em conversa com o encenador e o ator — António Simão e José Raposo – aquilo que vem mais vezes nas palavras dos dois artistas tem a ver com as palavras, sim, mas principalmente com o som das palavras; e trata-se de uma tradução, é preciso não esquecer; soa primorosamente, o texto português de Pedro Porto Fernandes; mas estamos a falar do intervalo entre o norueguês e o português, duas línguas não muito semelhantes. E, no entanto. No entanto, são as palavras, as repetições de palavras, de fragmentos de discurso; os silêncios; os sons — que são mais frequentemente referidos. E o sentido é uma coisa que vem em função disto tudo; o sentido que vem por aproximações, por uma escuta atenta, do ator, do encenador. Repetir. É o que se faz no teatro, é o que se faz na música, repetir até se conseguir alguma coisa. A certa altura, o encenador é eloquente, aquilo de que está à espera, aquilo que quer encontrar, mais do que tudo — deve ser o tom certo. Não é por acaso que é aquilo que os grandes autores, escritores, encenadores, atores, prezam, acima de tudo. O tom certo é o tom que revela aquilo que só se começa a vislumbrar quando esse tom se faz sentir. Antes, não se sabe qual é o tom certo. Quando ele se manifesta, é com a força e a evidência de uma epifania, de uma revelação súbita. Não por acaso, em “Foi Assim”, um monólogo, a música faz parte do discurso da personagem, é consubstancial à sua maneira de existir. É referida concretamente, com a música de Bach, e, no entanto, o homem pergunta, a certa altura — “mas quando uma pessoa não vê/ e não ouve/ será/ sim que a música/ sim Bach/ será que existe Bach”. Pausa muito breve. “Sim claro que existe/ como é que eu estou a pensar”. Pausa breve. “Sim apesar de ninguém tocar a música de Bach/ ela existe é claro”. A hesitação do homem sobre a existência da música não é muito diferente da sua reflexão sobre o sentido: “Não há nenhum grande sentido/ mas que o sentido existe em si mesmo existe”.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.