Teatro

Teatro: “Quem Quer Ser Milionário” não é na televisão, é no palco do Maria Matos

25 dezembro 2022 10:19

João Carneiro

A peça baseia-se na história de Charles Ingram que ao participar no programa de televisão “Quem Quer Ser Milionário” ganhou e foi acusado de batota

d.r.

A fraude real e a ficção numa peça de James Graham, encenada por António Pires, a ver no Teatro Maria Matos, em Lisboa, até 29 de janeiro

25 dezembro 2022 10:19

João Carneiro

Em 2001, Charles Ingram participou no concurso “Quem Quer Ser Milionário”, apresentado pela ITV, no Reino Unido. Respondeu a todas as perguntas, e ganhou um milhão de libras. Contudo, foi acusado de ter feito batota e, em 2003, foi julgado, considerado culpado e condenado. Com ele, foram também julgados e condenados a sua mulher, Diana Ingram, e Tecwen Wittock, um professor de Cardiff, por envolvimento no crime. Em 2005, foi publicado o livro “Bad Show: The Quiz, The Cough, The Millionaire Major”, de Bob Woffinden e James Plaskett; nele, os autores revêm os dados do julgamento, e colocam a possibilidade de Charles Ingram não ser culpado. James Graham, o autor da peça “Quiz”, lembra-se de ter acompanhado o julgamento com grande interesse e curiosidade.

O argumento central da acusação partiu daquilo que a equipa de produção diz ter começado a achar estranho durante as filmagens do concurso em que Charles Ingram ganhou o prémio. Em particular, foi notada uma tosse que teria guiado Ingram na escolha da resposta certa. Foi, essencialmente, a partir da leitura do livro de Woffinden e Plaskett, que James Graham decidiu escrever uma peça de teatro. A sua intenção foi criar uma obra de ficção a partir de factos. Como tal, aquilo que se passa na peça é uma dupla apresentação dos factos que terão levado à condenação; ou seja, aquilo que muda é a maneira de os apresentar. Durante a primeira parte, toda a construção dramatúrgica é feita em função da culpa de Ingram; durante a segunda parte, os mesmos factos parecem sugerir a sua inocência. O público é levado a julgar de duas maneiras diferentes, mas até este dispositivo acaba por ser lugar de dúvidas. Em jogo estão as questões da relação entre factos, verdade e mentira; estão as questões da manipulação dos factos, da verdade e da mentira; da manipulação da opinião pública. Estão em causa as relações entre política, ficção e não ficção; e, evidentemente, estão em causa as noções de realidade e de verdade, numa sociedade em que política, entretenimento e espetáculo estão intimamente ligados, se sobrepõem e se confundem. / João Carneiro

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.