19 novembro 2022 20:42

Gertrude Stein cria paisagens com a linguagem, como lembra o encenador
miguel bartolomeu
A partir de “Fazer um Livro de Alfabetos e Aniversários”, António Pires e um grupo de criadores em estado de graça criaram um universo maravilhoso
19 novembro 2022 20:42
Na folha de sala que acompanha o espetáculo, existe uma muito útil sinopse do mesmo: “É exatamente o que o título indica: um alfabeto de aniversários, uma lista de pessoas cujos nomes começam por letras e que fazem anos num certo dia e o que é que acontece nesse dia em que fazem anos.” Parece simples, e talvez seja. Mas devemos ter em conta, desde logo, o que é um alfabeto. De uma maneira geral, toda a gente sabe; é um conjunto de letras, segundo uma determinada ordem; é um conjunto de sinais que representam sons, que correspondem a letras, e com esses sinais podemos, geralmente, formar palavras. Deixemos de lado todos os afinamentos e refinamentos que esta espécie de descrição deveria ou poderia sofrer; fiquemos pelo senso comum, pois também é disso que se trata (embora não seja também disso que se trata, mas pronto). Um alfabeto é um conjunto de instrumentos com o qual se podem fazer coisas, e essas coisas podem ser palavras. Mas um alfabeto de aniversários? Um alfabeto também é um conjunto de coisas que se podem organizar para fazer outras coisas, e, porventura, todas estas maneiras de fazer coisas e de usar sinais e letras e coisas podem fazer com que se criem coisas que até podiam não existir antes, ou que podiam existir mas não nos lembrávamos, por exemplo. Um alfabeto pode ser uma coisa simples e complicada, portanto.
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