Teatro

“Proximidade”, de Arne Lygre, no Teatro da Politécnica: contar uma história e vivê-la ao mesmo tempo

4 novembro 2022 17:26

Rita Durão, em primeiro plano, e Isabel Muñoz Cardoso, afastada, num espetáculo dos Artistas Unidos

jorge gonçalves

“Proximidade” é uma peça que alia à concisão verbal a ambiguidade da caracterização de personagens, tempos e situações. Pelos Artistas Unidos, no Teatro da Politécnica, em Lisboa, até 3 de dezembro

4 novembro 2022 17:26

Existe uma personagem designada por Ela, uma mulher. Começa por dizer: “Tenho um apartamento em que vivi nos últimos anos... tenho um quarto... tenho uma mulher estranha sentada comigo na cama, encostada à parede.” Também diz: “Eu digo: vi-te na rua... Digo: olhei para ti... Eu digo: pensei que ia dizer olá...” “Proximidade”, de Arne Lygre (n. Bergen, 1968), é um conjunto de frases que, frequentemente, são introduzidas pelos verbos ‘ter’ e ‘dizer’. Os tempos variam, mas a utilização destes verbos em diversas modalidades temporais é um dos traços distintivos mais importantes do tipo de diálogo que se estabelece. Porque é, de facto, um diálogo.

Há outras personagens, “uma estranha”, “um amigo”, “um namorado”. Desde logo, somos confrontados com questões como a de saber “com quem” falam as personagens, ou “para quem” falam as personagens. E “com quem” e “para quem” não são aspetos pouco importantes. São modalidades de uma espécie de duplicação das coisas, das palavras, dos discursos, que introduz uma ambiguidade fundamental no sentido de um discurso que, do ponto de vista estritamente verbal, é particularmente conciso e sintético. Porque existem, ainda, “outro estranho”, “outra amiga” e “outro namorado”.