Teatro

Marco Paiva encena “Zoo Story”, de Edward Albee, em língua gestual portuguesa

7 outubro 2022 18:54

Claudia Galhós

A peça é interpretada exclusivamente por dois atores surdos (Marta Sales e Tony Weaver), em língua gestual portuguesa

A história original de Albee passa-se num jardim zoológico, que é, segundo Marco, “um instrumento para perceber como é que as pessoas se relacionam quando já tudo falhou”. Essa referência mantém-se

7 outubro 2022 18:54

Claudia Galhós

“Até que ponto conseguimos mergulhar a fundo numa língua que é física e até que ponto isso transforma a relação com o teatro enquanto objeto artístico?” A questão é exposta pelo encenador Marco Paiva no final do ensaio de “Zoo Story”, peça criada a partir do texto de Edward Albee (1959), interpretada exclusivamente por dois atores surdos (Marta Sales e Tony Weaver) em língua gestual portuguesa e que leva mais longe a interrogação que já havia explorado em “Calígula Morreu” (2021), em quatro línguas: português, espanhol, língua gestual portuguesa e língua gestual espanhola. Os ensaios ainda acontecem a cru, a mais de uma semana da estreia. Não há cenário, música ou figurinos. Tudo será diferente, entretanto, quando for estreada. Quem for assistir poderá deixar-se perder na coreografia, que implica todo o corpo e a muita expressividade de rosto que compõe a língua gestual. Mas quem quiser seguir a conversa ao detalhe pode ir lendo a legendagem. Sendo este um projeto a todos os níveis inclusivo, conta também com audiodescrição.

“Zoo Story” começa com a cena final do filme “Alien”, de Ridley Scott. Logo a seguir, Tony cumprimenta o público, apresenta-se e revela a relação que existe entre aquele filme de Hollywood e a razão por que está ali. “Estas imagens foram feitas em 1979, exatamente 20 anos depois de Edward Albee estrear ‘The Zoo Story’ em Nova Iorque e apenas um ano antes de eu nascer, em 1980. (...) Era urgente começar esta relação. Muito urgente. Já vos explico melhor. O meu desejo de aqui estar, hoje, neste palco, é falar-vos de algo que tem muito a ver comigo...” Marco Paiva explica depois ao Expresso que todas estas referências partilham o facto de serem exercícios de ficção, discutirem uma questão que é fundamental no enredo da peça e ainda o facto de ser muito pessoal para os dois atores. A história original de Albee passa-se num jardim zoológico, que é, segundo Marco, “um instrumento para perceber como é que as pessoas se relacionam quando já tudo falhou”. Essa referência mantém-se. Até porque para Marco Paiva há um paralelismo que estabelece entre o zoo e o teatro: ambos são ambientes artificiais que se revelam fundamentais para entender as relações humanas. “Temos de trazer o público aqui para se confrontar com uma língua, com outra proposta cénica, para pensar que relação temos com as artes performativas, mas também com esta língua e com estes artistas que estão aqui.”

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.