Teatro

Esta é uma peça musical onde o debate e a disputa de ideias e poder se escutam por via de uma espécie de coro dissonante

23 setembro 2022 22:36

Legenda

“The Declaration of Human Rights”, da Mala Voadora, está na Culturgest, em Lisboa, de 28 a 30

23 setembro 2022 22:36

Deram-se elementos que, a serem verdadeiros, deviam constar em “The Declaration of Human Rights”, a nova peça da Mala Voadora, de Jorge Andrade e José Capela, que se apresenta em Lisboa, depois da estreia mundial no Luxemburgo, em junho. A proposta é a mesma: inscrever no espaço teatral algumas das discussões que tiveram lugar aquando da redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1946, 1947 e 1948), dando a escutar representantes dos 50 países que faziam parte das Nações Unidas.

Num recurso já outras vezes utilizado por Jorge Andrade, encenador e ator, o texto institucional, político, é usado como texto dramático. Agora, 21 atores dão voz à discussão gerada sobre alguns dos temas fundamentais que constam da Declaração, entre os quais a questão do poder da língua, os problemas da tradução, o direito à cultura, conceitos de democracia, comunismo, fascismo, colonialismo... Cada artigo fixado na Declaração é apenas a face visível de um exaustivo debate de pontos de vista e tensões a que não acedemos e que a peça, recuperando muitas dessas discussões, volta a fazer ouvir. Porque se trata de uma peça de teatro da Mala Voadora, já se sabe que o cenário (de José Capela) tem um impacto visual e simbólico que acrescenta outras camadas aos temas, assim como a música (Batida, Pedro Coquenão) traz, entre outras, as questões relativas aos direitos dos seres da natureza e uma escuta da pluralidade do mundo que ainda não estava ali representada. No final, esta é uma peça musical onde o debate e a disputa de ideias e poder se escutam por via de uma espécie de coro dissonante, enquanto ao fundo sons da natureza alertam contra o esquecimento: a Humanidade não está mesmo toda ali representada. / C.G.