7 maio 2023 10:17

“First Two Pages of Frankenstein”, o novo álbum dos The National, é a “terapia coletiva” da banda
7 maio 2023 10:17
Há dois anos e meio, ninguém o adivinharia. Falando a partir da Califórnia, por ocasião do lançamento do seu álbum a solo, “Serpentine Prison”, Matt Berninger referia-se à paralisação geral a que o confinamento em consequência da emergência pandémica obrigara (“Toda a gente tem de repensar a forma como lida com a vida. Foi tudo virado de pernas para o ar. Não parou apenas a indústria musical, parou praticamente tudo. Tem sido uma situação dramática. Não é possível planear coisa nenhuma”), expelia fel sobre a tenebrosa era-Trump (“Custa a acreditar como uma nação se deixou dominar por um criminoso patético e transparentemente maligno e dói ver a aceitação de tal brutalidade. Teremos de reconstruir a América praticamente a partir do zero, mas acredito que o ideal americano mantém a força suficiente para, optando por Biden e Kamala Harris, reinventar o país”), mas, quando lhe perguntei qual o critério para distinguir o que viria a ser uma canção dos National de outra para o seu reportório pessoal, respondeu: “Tenho escrito bastante. Estou sempre a escrever, nunca paro. Há muitos músicos e autores de canções amigos que me enviam esboços de ideias. Quando o Aaron, o Bryce, o Brian ou o Scott me enviam alguma coisa, será uma canção dos National.”
Na realidade, porém, não foi tudo assim tão fácil. Agora que (quatro anos após “I Am Easy to Find”), “First Two Pages of Frankenstein”, o novo álbum da banda, é publicado, Matt confessa que, mais do que em qualquer outro momento anterior, o fim dos National esteve prestes a acontecer: “Mesmo que, sempre que estamos a trabalhar num álbum haja discussões e muita ansiedade, esta foi a primeira vez que sentimos que as coisas poderiam ter chegado irremediavelmente ao fim. Estava num buraco muito negro, não era capaz de escrever uma letra nem de criar uma melodia. Foi assim durante um ano”. E, à “Uncut”, em modo cirurgia de coração aberto, contaria tudo sobre aquele momento “em que o comboio descarrilou”: “Habitualmente, quando atravesso períodos conturbados, consigo lidar com isso, escrevo uma canção sobre o que me perturba o que contribui muito para resolver o problema. Mas, desta vez, eu não queria fazê-lo. Tinha perdido o interesse pela minha própria dor e pelos meus problemas. Sentia-me até, se calhar, envergonhado por causa deles. E quanto mais tempo passava sem exercitar aquela parte de mim responsável pela escrita, mais difícil se tornava restabelecer a ligação com ela.”