Música

Um mar de gente que se desloca em ondas cronometradas ao segundo: em digressão pela Europa com a Orquestra Gulbenkian

23 dezembro 2022 19:23

Luciana Leiderfarb

fotografias pedro pina

Quando uma orquestra faz 60 anos, quanto tempo viveu? Quantas vidas por ela passaram? A Orquestra Gulbenkian chegou a essa idade e celebrou-o em digressão

23 dezembro 2022 19:23

Luciana Leiderfarb

Não há forma de o Musikverein perder a solenidade. Mesmo vazio, continua a impor respeito. É nada menos que a Meca musical vienense, aberta em 1870, quando a cidade era o centro artístico europeu. Na altura, o alemão Johannes Brahms vivia lá há meia dúzia de anos. Nesta sala estreou várias obras, entre as quais a 3ª Sinfonia, que a crítica qualificou de “quase perfeita”. Quantas vezes a terão ouvido estas paredes? Hoje, uma nova orquestra a soma-se a esse longo inventário. A Orquestra Gulbenkian (OG) toca aqui pela primeira vez na sua história, no virar dos seus 60 anos. Em idade cósmica, isso equivale a apenas um segundo. Em idade humana, ao início da velhice. Mas o que é o tempo para uma orquestra?

O passado constrói o presente. Em 1962, em Viena celebrava-se o 150º aniversário da Sociedade dos Amigos da Música, para a qual o Musikverein foi erigido. Acontecia a crise dos mísseis de Cuba, o Brasil vencia o Mundial, morria Marilyn Monroe, a Argélia conquistava a independência. Em Portugal, panfletos da marcha pelos direitos das mulheres circulavam clandestinamente e os universitários rebelavam-se contra o regime salazarista. No Teatro D. Maria II, a 22 de outubro, realizava-se um concerto alusivo a Debussy por uma desconhecida Orquestra de Câmara Gulbenkian, formada por 13 músicos — sete violinos, duas violas, dois violoncelos e um cravo. O maestro era Lamberto Baldi e no programa de sala lia-se: “Para todos.”