Música

Brian Eno, o inventor de universos. “Foreverandevernomore”, o manifesto subliminar

14 outubro 2022 11:50

Ao apostar tudo na desorientação e perda de referências nítidas, Brian Eno procura limpar o horizonte das cinzas que o atulham

cecily eno

Em “Foreverandevernomore”, Brian Eno continua a fazer das canções paisagens, “mas, desta vez, com humanos dentro”. Modos de intervir sobre a realidade

14 outubro 2022 11:50

Era 4 de agosto de 2021 e, no Odeão de Herodes Ático — um teatro construído em 161, na vertente sul da Acrópole de Atenas —, a temperatura subia até aos 45 graus enquanto, nos subúrbios da cidade, fogos florestais devastavam tudo em volta. “Aqui estamos nós no lugar do nascimento da civilização ocidental, e a ser, provavelmente, testemunhas do seu fim”, diria Brian Eno, de um palco coberto de cinzas, ao público que fora assistir ao concerto que ele, o irmão Roger, a sobrinha Cecily, Leo Abrahams e Peter Chilvers apresentavam no Festival de Epidauro. Seria nesse mesmo local que filmaria o vídeo de ‘There Were Bells’ (“There were horns as loud as war that tore apart the sky, there were storms and floods of blood of human life, never mind, my love, let's wait for the dawn, fly back to tell us there is a haven showing night”), primeira faixa publicada de “Foreverandevernomore”, sucessor de “Reflection” (2017) e, desde “Another Day On Earth” (2005), o primeiro álbum em que Brian Eno oferece o seu transparente timbre de barítono quase salmodiado à ondulação sonora sobre que se erguem as canções: “A minha voz transformou-se, ficou mais grave, tornou-se numa outra personalidade a partir da qual posso cantar. Não desejo cantar como um adolescente. Posso ser melancólico, triste... No que respeita a ter voltado a escrever canções — continuam a ser, essencialmente, paisagens mas, desta vez, com humanos dentro. Gosto de criar mundos, é o que, enquanto artista, faço, inventar universos sonoros. Agora, após uma prolongada ausência de humanos nesses mundos, tentei que voltassem a habitá-los e procurei avaliar como se sentem nos mundos que criei”, pode ler-se no texto de apresentação do álbum.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.