Música

Em “Dirt Soda”, o que se escuta é coisa hipnótica de essência medularmente lynchiana. AJ Lambert está de volta

10 outubro 2022 15:40

João Lisboa

A artista norte-americana AJ Lambert, filha de Nancy Sinatra e neta de Frank Sinatra

AJ Lambert apresenta “Dirt Soda”. O crítico João Lisboa dá-lhe quatro estrelas

10 outubro 2022 15:40

João Lisboa

Com Angela Jennifer Lambert (aliás, AJ Lambert) nada é, realmente, como se imagina. Após uma “juventude perdida” a bordo de ilustres bandas desconhecidas (ou quase) — Sleepington, Looker, Here We Go Magic —, com quem se dirigiria ela para os estúdios de Steve Albini, em Chicago, com o objetivo de gravar um EP (“Lonely Songs”, 2018) comemorativo dos 60 anos de “Only The Lonely” (1958), de Frank Sinatra? Evidentemente, Greg Ahee, dos Protomartyr, escolha instantânea de AJ que, não escondamos mais o jogo, é neta de Frank e filha de Nancy Sinatra.

E, quando, aos 44 anos, se decidiu, enfim, por um percurso de cantora, além de concertos de voz e piano em que interpretava os clássicos do avô, que reportório escolheu para si no álbum de estreia, “Careful You” (2019)? John Cale, Chris Bell, TV On The Radio, Spoon, Billie Holiday, e duas pepitas de Ol’ Blue Eyes, de entre uma lista de candidatos onde se incluíam também Robert Wyatt, Elvis Costello e David Bowie (“Para mim, é tudo exatamente igual a quando Alan Lomax andava por todo o mundo a descobrir as músicas locais. As canções estão aí para ser colhidas”, dizia ela à WNYC). Isto, enquanto, com Greg Ahee e Michael Wallace, alimentava a fogueira dos Bloodslide, trio pós-punk de incandescências elétricas. Agora, em “Dirt Soda”, continuando rodeada de gente dos círculos privados de Bill Laswell, Julia Holter, Yves Tumor e Joan As Policewoman, à exceção de ‘Strings of Nashville’, dos Pavement, e ‘Broken Hearted Wine’, dos Codeine (fundidas numa liga metálica única), e de ‘Then You Can Tell Me Goodbye’, de The Casinos, AJ assina todos os outros temas. E o que se escuta é coisa hipnótica de essência medularmente lynchiana, traduzida e expandida para o vocabulário já antes, em várias tonalidades, ensaiado por Julee Cruise, PJ Harvey, Nick Cave, Kate Bush ou Chrysta Bell. / João Lisboa