4 setembro 2022 16:06

Damon Reece e Elizabeth Fraser: Sun’s Signature
Não é exatamente um álbum mas algo entre um mini álbum e um EP robustecido intitulado, tal como o duo Elizabeth Fraser-Damon Reece, “Sun’s Signature”. Demorou, mas está aí
4 setembro 2022 16:06
Quando alguém se lembrou de chamar a Elizabeth Fraser “a voz de deus”, poderemos ter, enfim, ficado a conhecer o género do poder supremo mas isso nunca seria atenuante suficiente para um insulto que ela, de todo, não merecia. Porém, repetindo talvez a certidão de óbito nietzschiana de 1882, em 1997, os Cocteau Twins imobilizaram-se para sempre e “a voz de deus” calou-se.
Não de forma realmente total mas apenas os de muita fé terão reparado nas meteóricas aparições — à boleia dos Massive Attack, Peter Gabriel, Sam Lee, Oneohtrix Point Never, duas ou três bandas sonoras, um ou dois singles quase confidenciais e outro realmente confidencial (e inédito: ‘All Flowers in Time Bend Towards the Sun’, com Jeff Buckley) — que, em 2012, passariam pelo palco do London Meltdown Festival. Com o companheiro e co-conspirador Damon Reece (Massive Attack, Spiritualized, Echo & the Bunnymen, Lupine Howl) aí apresentaria quatro quintos do que, três anos antes, ao “The Guardian”, havia revelado “poder vir a ser um álbum”, embora a precisar ainda de “ser muito polido”. Demorou só uma década a limar as arestas, à exceção da faixa de abertura, “Underwater” que, desde a publicação como single, em 2000, precisou de 22 anos para alcançar a configuração ideal. Não é exatamente um álbum mas algo entre um miniálbum e um EP robustecido (5 faixas num total de 30 minutos), intitulado, tal como o duo Fraser-Reece, “Sun’s Signature”. Damon fala de Bernard Herrmann e John Barry como estimulantes estéticos, Elizabeth prefere resguardar-se das possíveis influências de outros músicos mas gostaria de “conduzir-nos numa viagem como a de ‘Forever Changes’, dos Love”. Pensem numa ‘Song To The Siren’ ampliada e mobilada de vibrafones, dulcimeres, Moogs, mellotrons, címbalos, e celestas por Alison Goldfrapp, paisagista sonora de “Felt Mountain”. É por aí. / João Lisboa