29 abril 2023 21:05

Destacando-se sobretudo como poeta e ensaísta, Jorge de Sena (1919-1978) foi também um notável ficcionista, como provam estes dois livros agora reeditados
rui ochôa
Iniciando a reedição da obra ficcional do grande autor, publicam-se “Andanças do Demónio”, os seus primeiros contos, e “O Físico Prodigioso”, uma portentosa novela
29 abril 2023 21:05
Quase em catadupa, a editora Guerra & Paz vai recuperar, em 2023, os principais livros de ficção de Jorge de Sena e alguns dos seus ensaios. Além de “Andanças do Demónio” e “O Físico Prodigioso”, que acabam de ser lançados, estão na calha “As Novas Andanças do Demónio” e, no segundo semestre, “Sinais de Fogo”, um dos maiores romances portugueses do século XX, se não o maior.
Publicado pela primeira vez em 1960, “Andanças do Demónio” reúne oito textos de natureza muito diversa, mas que constituem, cada um à sua maneira, “perambulações demoníacas”. Por muito que reflitam ou refratem experiências autobiográficas, Sena insiste, no seu “elucidativo prefácio”, em considerá-los contos puros, momentâneas narrativas, breves suspensões do tempo, porque “um conto é, ao contrário de um romance, menos uma meditação animada sobre a vida, que uma contemplação sonhadora desta”. Exercício lúdico e irónico para “meninos pequenos” e “crianças grandes” sobre os símbolos religiosos e profanos do Natal, ‘Razão de o Pai Natal Ter Barbas Brancas’ é uma vinheta cómica em que o menino Jesus, aos sete anos, enquanto desenha nuvens na lama com uma vara, tem de se haver com o diabo (e suas baforadas de enxofre nos intervalos do riso), dando-lhe a volta com presteza e astúcia, não uma mas duas vezes, além de ajudar o Pai Natal a distinguir-se do mafarrico, que também descia pela chaminé, vestido de vermelho e com barbas falsas, mais um saco carregado de brinquedos do inferno.