9 abril 2023 11:28

Silvina Ocampo (1903-1993) num dicionário de fantasmas
d.r.
Silvina Ocampo raramente escreveu ficção longa. Uma das poucas excepções é “A Promessa”, uma narrativa de uma centena de páginas que é mais do que um dicionário de fantasmas
9 abril 2023 11:28
Extraordinária contista (foram nos últimos anos traduzidas as colectâneas “A Fúria”, 1959, “As Convidadas”, 1961, e “Dias da Noite”, 1970), Silvina Ocampo raramente escreveu ficção longa. Uma das poucas excepções é esta narrativa de uma centena de páginas, na qual trabalhou entre meados da década de 60 e finais da década de 80, quando as suas faculdades mentais já se deterioravam (faleceu em 1993). Semelhante, em linhas gerais, aos textos curtos (tanto que alguns fragmentos acabaram por integrar livros de contos), “A Promessa” (2011) tem, ao contrário daqueles, princípios unificadores.
Um desses princípios é a circunstância. Uma mulher que caiu de um navio, sem que ninguém tenha dado por isso, está a morrer, à deriva nas águas; para não adormecer, ou para convocar uma última esperança, vai-se lembrando de pessoas que conheceu, Sherazade negociando a morte com o mar, devota que promete a santa Rita, “padroeira das causas impossíveis”, contar a sua história se tudo acabar bem. O outro princípio é o método. Convencida de que só tem interesse enquanto projecção das vidas dos outros, a mulher enumera e descreve, de um modo obscuramente associativo, familiares, amigos, vizinhos, tanto em microbiografias como em diálogos ou enigmas.