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Luandino Vieira: a reconciliação em Angola

1 abril 2023 22:33

Diogo Ramada Curto

O ‘acervo de prisão’ de Luandino Vieira está, a partir de agora, disponível em arquivo digital

nuno gonçalves

O que terá Luandino Vieira pretendido dizer com a publicação dos “50 Poemas”, de Mário António? Que dois escritores em lados opostos da barricada se podem reconciliar

1 abril 2023 22:33

Diogo Ramada Curto

Onze anos passaram desde que o escritor angolano Luandino Vieira publicou “50 Poemas”, de Mário António (Nóssomos, 2012). Com esse gesto, aquele que é o maior vulto da literatura angolana, além de herói da resistência que sofreu no Tarrafal a repressão colonial, reconciliou-se com quem esteve do outro lado da barricada. Criou uma ponte por onde podem passar todos os que contribuíram para a formação da literatura e da cultura angolanas. Um gesto exemplar que passou despercebido mas que vale mais do que anos de discursos, comissões e encontros inúteis sobre a chamada lusofonia. Um gesto que é ainda mais exemplar em relação às polarizações políticas que atravessam, hoje, a sociedade angolana.

Para compreender o significado de tal gesto será preciso recuar no tempo. É que um dos aspetos que mais impressiona na história da literatura angolana foi lançado por Mário António (Maquela do Zombo, 1934-Lisboa, 1989). Refiro-me à valorização da segunda metade do século XIX, enquanto momento decisivo na formação da literatura angolana. Através dessa valorização, será possível reconstituir não só ideias precoces de angolanidade, de autonomia e de independência, de antirracismo e de denúncia das novas formas de escravatura ou trabalho forçado.