1 abril 2023 23:19

Estaline tinha uma biblioteca com milhares de títulos, muitos deles anotados
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Geoffrey Roberts escreveu vários livros sobre Estaline. Mas neste o historiador faz algo de inédito: mergulha nos restos da biblioteca do ditador, rastreando-lhe a mente através do seu perfil de leitor
1 abril 2023 23:19
Fora da hagiografia oficial comunista, Estaline foi visto durante muito tempo como um homem intelectualmente limitado, que conquistou o poder não através do seu carisma ou do seu brilho oratório mas do controlo do aparelho partidário. Vontade firme, persistência, capacidade de trabalho, sim; nível intelectual, nem por isso. Esta imagem foi desmentida por biografias como a de Simon Sebag Montefiore, e o presente livro, escrito por um especialista em história soviética, cancela-a de vez. A biblioteca pessoal de Estaline mostra que ele não só lia bastante como lia de uma forma eclética, embora conservadora. Roberts descreve-o como “um intelectual dotado de inteligência emocional e de sensibilidade” (“foi o poder da sua ligação emocional a crenças firmemente consolidadas que lhe permitiu sustentar décadas de um regime brutal”, explica).
Tendo levado uma vida irregular até quase aos 40 anos, só após o triunfo da revolução Estaline pôde finalmente dispor de um sítio para instalar uma coleção de livros e de meios para a rechear. Mas aí desforrou-se. Na sua dacha próxima de Moscovo, os volumes atingiram as duas dezenas de milhares. As preferências de Estaline iam para a política e a História, mas também lhe interessavam outros temas, incluindo a diplomacia e os assuntos militares, e lia ficção, em especial os clássicos, russos e internacionais. Há secções autónomas dedicadas a autores como Lenine, Marx e Engels, bem como a vários dos seus rivais políticos (conhece o teu inimigo...). Cerca de 400 livros contêm anotações. Muitas consistem em meros sublinhados ou outros sinais que chamam a atenção para determinadas passagens. Também são frequentes expressões breves de aprovação ou desaprovação. Não há nenhuma grande surpresa nem nada que permita duvidar da sinceridade ideológica do ditador, antes pelo contrário. Roberts reconhece que ele não era um pensador original ou profundo, mas essencialmente alguém que usava as ideias de outros. “Por isso lia tanto”, conclui.