29 janeiro 2023 18:52

As circunstâncias que rodearam uma tentativa falhada de atentado contra D. Pedro II, imperador do Brasil, durante a sua viagem aos EUA, em 1876, são o pretexto para um divertimento narrativo do mais famoso biógrafo brasileiro da atualidade
d.r.
Habituado a contar a vida de brasileiros distintos, como Nelson Rodrigues ou Garrincha, Ruy Castro ficciona mantendo um pé bem assente na realidade factual
29 janeiro 2023 18:52
Em 1876, o imperador do Brasil, D. Pedro II, empreendeu uma viagem não oficial pelos Estados Unidos da América. Apesar de bastante longa (cerca de três meses) e extensiva (começou em Nova Iorque e foi até São Francisco, passando por Nova Orleães e pelas cataratas do Niagara), nunca mereceu dos historiadores mais do que umas quantas notas de rodapé. Enquanto operação de charme, foi um sucesso. O imperador inaugurou com o então Presidente americano, Ulysses S. Grant, a grande exposição comemorativa do Centenário da Independência dos EUA, em Filadélfia, e terá encantado os anfitriões com a sua simpatia, informalidade e interesse pelos feitos da nova nação. Além dessa imensa popularidade, ficou para a memória coletiva o episódio do encontro com Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, que aproveitou o enorme entusiasmo do soberano estrangeiro com a ideia (ao ponto de mandar instalar o aparelho, meses depois, no seu palácio de Petrópolis) para catapultar o seu negócio.
Importante na época, a visita da primeira cabeça coroada à república americana esvaiu-se naturalmente com a passagem do tempo. Até porque, como lembra Ruy Castro no prólogo deste seu novo livro, as consequências foram nenhumas: “não se redigiu um tratado, não se assinou um contrato, não se trocou um caracol”. E se algo de extraordinário tivesse acontecido mesmo no fim da viagem, de volta a Nova Iorque, antes do previsto embarque para a Europa? E se, nas sombras, uma conjura de republicanos brasileiros preparasse um atentado à vida do imperador, envolvendo um tiro fatal durante uma sessão de circo no Madison Square Garden? Foi nesse “e se...” que Ruy Castro decidiu apostar, entrando ficção adentro com a destreza habitual e o tom de contador de histórias que sabe sempre pegar nos pormenores mais apelativos, capturar toda uma atmosfera em duas frases, e assim seduzir o leitor, ou surpreendê-lo.