Livros

As proezas do gastrónomo Luís de Sttau Monteiro

28 outubro 2022 9:09

João Pacheco

O novo livro “Luís de Sttau Monteiro — Gastrónomo” é assinado por Ana Marques Pereira, que já tinha escrito por exemplo o livro “Vestir a Mesa — Têxteis de Mesa do Séc. XV ao XX”

28 outubro 2022 9:09

João Pacheco

O quotidiano pode desfazer-nos, como Sttau Monteiro lembrará daqui a nada. O pretexto será a divulgação de uma receita que dá pouco trabalho. Sim, a receita será dada numa coluna de jornal pelo gastrónomo e escritor Luís de Sttau Monteiro (1926-1993), que ficou conhecido sobretudo pela peça de teatro “Felizmente Há Luar!”. E pelos trabalhos que fez para televisão. E pelas crónicas jornalísticas, que eram quase sempre assinadas com pseudónimos de duração variável como Guidinha, Manuel Pedrosa ou Inspector Gourmet. Quando quis dar uma receita de açorda de queijo, o autor assinou como Paulo Santana. E aproveitou para abanar os leitores: “Nem sempre apetece, a quem chega a casa depois de um dia de trabalho, meter-se na cozinha, debruçar-se sobre o fogão e produzir uma refeição que satisfaça toda a família. A verdade, queiramo-lo ou não, é que o quotidiano vai-nos desfazendo, tirando-nos o sentido da aventura e o prazer de viver. Cada vez mais iguais a um ser modelo que nada tem a ver connosco, cada vez mais estandartizados, fartos e monótonos, arrastamos a existência ao longo dos anos sem sabermos ao certo porquê e para quê. Não tenho, como é evidente, remédio para nada disto, nem acredito que a cozinha possa resolver problema desta espécie, mas uma coisa sei: não é necessário, a quem gosta de comer bem, sacrificar o seu tempo ao fogão ou deixar de fazer uma coisa agradável unicamente porque o jantar está por fazer.” Há mais de 40 anos, a tal receita de açorda de queijo foi dada por Sttau Monteiro no semanário “Se7e”, na crónica “A cozinha não é uma fábrica de escravos...” E a dita crónica faz agora parte do novo livro “Luís de Sttau Monteiro — Gastrónomo”, de Ana Marques Pereira, que já tinha escrito por exemplo o livro “Vestir a Mesa — Têxteis de Mesa do Séc. XV ao XX”.

Antes de bater palmas a este livro sobre o interesse de Sttau Monteiro pela gastronomia, tenho de fazer um enquadramento muito pessoal. Há dias, quando estava a folhear um exemplar numa livraria, reparei numa fotografia a preto e branco. Lá está Sttau Monteiro à mesa com várias pessoas, num restaurante. Parecem contentes, com luz que vem das janelas, comida nos pratos, copos na mão. E garrafas de vinho sem rótulo, poisadas sobre as mesas com toalhas aos quadrados. Entre as pessoas com pinta que encontrei na fotografia, lá está o meu tio João Ruella Ramos. E o meu pai e a minha mãe, Fernando e Rosarinho Assis Pacheco. Eram amigos do gastrónomo aqui em causa.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.