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A maternidade delirante de "A Pediatra", o novo romance de Andréa Del Fuego

27 agosto 2022 22:34

Prémio Saramago em 2011, Andréa Del Fuego explora neste romance, assumidamente sarcástico, o avesso da visão idealizada e cor-de-rosa do que é ser mãe, dar à luz e cuidar de bebés, próprios ou de outros

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O terceiro romance de Andréa Del Fuego, escritora paulista, é o retrato avassalador e cru de uma personagem odiosa, mas nem por isso menos humana

27 agosto 2022 22:34

O tom geral e o programa narrativo de “A Pediatra” ficam bem definidos logo no terceiro dos 55 breves capítulos deste romance. Nos dois primeiros ficamos a saber que o casamento da narradora, uma pediatra que detesta crianças e nunca desejou procriar, está por um fio. O marido vive numa depressão contínua e encharcada em fármacos, um estado de infelicidade que torna miserável a vida de Cecília (com um rasto de danos colaterais, das enxaquecas à fibromialgia), atirando-a, sem grandes hesitações ou sentimentos de culpa, para um caso extraconjugal tão intenso quanto intermitente. Chegados ao terceiro capítulo, Andréa del Fuego, abdicando de qualquer tipo de filtros, expõe então o leitor à primeira de várias cenas que mereceriam, caso fossem filmadas, a clássica bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.