30 dezembro 2022 16:42

Exposição “Echoes of Nature”
Incluída na programação da temporada Portugal-França 2022, em “Echoes of Nature”, de Manuela Marques, descobrimos a coerência de um olhar que usa a imagem como forma de aproximação humana a um mundo que tem o seu próprio movimento
30 dezembro 2022 16:42
Com importante circulação internacional e em Portugal (Prémio BES Photo em 2011 e exposição na Gulbenkian em 2017), Manuela Marques vê agora incluída na programação da temporada Portugal-França 2022 a exposição “Echoes of Nature”. A mostra faz parte de um tríptico expositivo e reúne um conjunto alargado de obras fotográficas e videográficas, sob curadoria de Emília Tavares, que remontam de 2018 até à atualidade.
Eco é uma palavra bastante sintomática desta recolha, porque há um longe nestas imagens, um mundo primevo que enviámos para as margens geográficas do viver coletivo. Cada ressonância de relevo ou recorte de luz, cada fruto de pedra vulcânica, cada cintilação marinha ou redemoinho de vento nos lembra o quanto nos apartámos de uma vida onde cabe a madeira, a lava, o gelo ou o fogo. Mais do que um exercício de documentação, este trabalho corresponde à ideia de uma “geopoética” (do poeta e viajante Kenneth White, citado no texto de Léa Bismuth no catálogo), ao testemunho meditativo da última aparição do sublime ou do seu reflexo fotográfico possível, que se manifesta logo nessa distância que a fotografia reinventa, se confirma na escala que a nós mesmos recoloca ou na estranheza pontual do que vemos, também ela filtrada por um paciente olhar fotográfico. No mar espelhado do vídeo “Outremer” (2002), que deixa ver as águas noturnas na aproximação de uma tempestade, nas imagens que exibem o estranhamento das texturas, as ocasionais presenças e gestos humanos ou de algumas outras criadas em contextos mais artificiais, mas que buscam ainda o espelho da natureza, descobrimos a coerência de um olhar que usa a imagem como forma de aproximação humana a um mundo que tem o seu próprio movimento. / Celso Martins