Exposições

“This Is a Bar... ou Praia de Banhos”: sol e uma bola de espelhos

25 junho 2022 22:35

Celso Martins

Celso Martins

texto

Jornalista

O centro de irradiação é uma evocação da figura do pintor Joaquim Bravo, mas esta alarga-se a um conjunto de artistas do Algarve ou com forte relação com a região, como Palolo, Álvaro Lapa, João Cutileiro ou Xana

joão neves

Uma muito curiosa ideia curatorial cruza referências ao Algarve e à sua cena artística. No Pavilhão Branco, em Lisboa, até 21 de agosto

25 junho 2022 22:35

Celso Martins

Celso Martins

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Jornalista

Não é necessariamente mau que demoremos a perceber o que uma exposição oferece. Isso pode acontecer porque o título é mau (é o caso) ou porque a proposta é suficientemente descentrada para se compreender por antecipação do que realmente se trata (o que também é o caso). Na verdade, “This Is a Bar...” funciona como uma muito bem urdida trama de convocações, capaz de sobrepor camadas que nos fornecem uma visão do Algarve que combina utopia veranil, a imagem de uma colónia balnear desgastada, abordagem socioeconómica e invocação histórico-artística com uma coerência e entrosamento assinaláveis.

O centro de irradiação é uma evocação da figura do pintor Joaquim Bravo, mas esta alarga-se a um conjunto de artistas do Algarve ou com uma forte relação com a região como Palolo, Álvaro Lapa, João Cutileiro ou Xana. O mote é dado por um conjunto de desenhos realizados por Joaquim Bravo sob pseudónimo BRANA que foram produzidos expressamente para vender aos turistas que visitavam a região enunciando uma relação entre arte e turismo que a curadoria de Diogo Pinto problematiza ao longo de toda a exposição. Isso acontece em muitas das obras pela proeminência da expressividade dos materiais, nomeadamente aquelas onde a evocação da paisagem é mais efetiva. Vejam-se as sedutoras esculturas de Vera Gonçalves, empilhamentos de pedras e madeiros trazidos pelo mar; as peças de chão de Jorge Mealha feitas em grés que evocam os pontões das marinas e dos portos; os cilindros coloridos em têxtil de Zé Ventura; a peça de Maria Altina Martins com recurso à tecelagem manual; ou “Areia para os olhos” a parede de baldes de plástico que Xana criou no contexto controverso do “Allgarve” e que, simultaneamente, nos lembra uma modernidade ambientalmente agressiva, sobretudo em contexto balnear.