Dança

Dança: Em “Versa-Vice”, de Tânia Carvalho, tudo pode ser outra coisa

15 abril 2023 18:55

Claudia Galhós

“Versa-Vice” é o espetáculo do terrível, da violência e do excesso de energia criadora

rui palma

“Versa-Vice” revolve as entranhas e aguça os sentidos. O Expresso assistiu em França à estreia do último espetáculo de Tânia Carvalho, um dos maiores destaques do Festival Dias da Dança, no Porto — mais adiante em Coimbra, Viseu e Lisboa

15 abril 2023 18:55

Claudia Galhós

O imaginário artístico de Tânia Carvalho faz-se de dança, de desenho, de música. Tudo flui de uma arte para a outra. E, ainda assim, por vezes esquecemos que estamos a ver dança e parece que estamos a ver cinema. Ou uma pintura que vai acontecendo ao vivo. É esse o impacto da mais recente peça de grupo de Tânia Carvalho. “Versa-Vice” estreou-se mundialmente em Paris em março, no Théâtre Jacques Carat, de Cachan. Este mês, “Versa-Vice” inicia a sua digressão por Portugal, a começar pelo Porto (dias 22 e 23 no Teatro Rivoli), no âmbito do DDD — Festival Dias da Dança. A 18, 19 e 20 de maio apresenta-se na Culturgest (Lisboa). Para já, no DDD, Tânia Carvalho vai também dar um concerto, “Madmud” (dia 24, Teatro Rivoli), e um workshop (dias 19 e 20, no Campus Paulo Cunha e Silva).

Tânia desmonta com simplicidade o significado do título “Versa-Vice”, é “o vice-versa de vice-versa”. Ou seja, “todas as coisas têm um espelho, um oposto, uma outra opção”, diz a coreógrafa ao Expresso. “Estamos sempre a fazer escolhas, estamos sempre à procura. Achamos nós, não sabemos se estamos. Também estamos a reagir. Temos reações químicas. Na realidade não estamos a escolher nada.” É neste fluxo de movimento, por entre aparentes contradições e opostos, que a peça se vai desenrolando. “Versa-Vice” é uma dança concebida sobre contrastes. Revolve as entranhas e aguça os sentidos entre o grotesco, o riso, a severidade desoladora e um jogo vibrante entre luz e sombras. É o espetáculo do terrível, da violência e do excesso de energia criadora. É cinema mudo com acompanhamento musical. É por vezes teatro de sombras, é um delírio clownesco, ou é um genial desfilar de acrobacias do quotidiano das emoções humanas, das suas alegrias, sofrimentos e temores. Ou não é nada disto. Talvez tudo isto seja parte do visível para um espectador. Para Tânia, podem ser muitas outras coisas.