Dança

Dança: Destravando a intimidade com Gaya de Medeiros

16 dezembro 2022 11:33

Claudia Galhós

“BAqUE” de Gaya de Medeiros numa criação para cinco corpos trans. No Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, até domingo

16 dezembro 2022 11:33

Claudia Galhós

O que escreveria numa carta dirigida à última pessoa que partiu o seu coração? Este foi apenas um dos exercícios que constaram do processo de criação da primeira peça de grupo de Gaya de Medeiros, artista trans, revelação como coreógrafa e intérprete em 2021 com o dueto “Atlas da Boca”, criado com Ary Zara, reivindicando uma composição de dança de e com dois corpos trans.

“BAqUE” é a passagem para a criação de uma peça de grupo, cocriada por cinco artistas trans — Ary Zara, Lari Tav (Labaq), João Leonardo (Kali), Gaya de Medeiros e Eríc Santos. A questão da identidade de género está lá, faz parte de quem são, mas estão lá muitas outras questões, porque cada pessoa traz um mundo inteiro único dentro de si. O palco está coberto de relva. Muito cedo na peça, um dos intérpretes assume que é relva artificial, sintética. Não há enganos. Mas neste lugar imaginado, construído, sobressai uma coleção de gestos que dizem da coexistência da violência com a ternura, o desencontro com a procura do outro, a corrida e o rodopio com a desaceleração e até a necessidade de parar. Às vezes bruscamente. “BAqUE” é feito de movimentos, histórias, canções, gestos e detalhes fundamentais, que dizem da singularidade de cada uma daquelas pessoas.