1 outubro 2022 20:27

claudia borgia
Mickaël de Oliveira leva “A Minha Morte” no Teatro Académico Gil Vicente. Para ver já este sábado, em Coimbra
1 outubro 2022 20:27
Estamos no final do século XXI. O sol queima até matar. Não há recursos. Há falta de afeto. As pessoas não comem, não têm água e também já não se amam. Há uma jovem sem nome (interpretada pela atriz Siobhan Fernandes) que saiu da cidade, viu o que se passa lá fora, e voltou. É ela quem fala para a comunidade a recomendar que não é seguro sair. E se, e quando, decidirem partir, têm de ir todos. Para criar um movimento político e propor um êxodo, que no final ela propõe, as pessoas vão ter de voltar a cuidar umas das outras. É por aqui que se desenrola “A Minha Morte”, o primeiro capítulo do díptico teatral “Episódios da Vida Selvagem”, da autoria do dramaturgo e encenador Mickaël de Oliveira para o seu Colectivo84.
No regresso à cidade, a jovem traz imagens e sons. Paisagem e música. Com estes, desencadeia um dispositivo teatral que alia a narrativa da atriz com o canto, acompanhada pelo coro Tune Up Voices, inspirado nos coros de gospel, mas aqui desconstruído pela dupla de músicos Rui Lima e Sérgio Martins, que manipulam a música ao vivo. O coro traz a esperança. A fala da jovem sábia tem um temperamento menos luminoso, informado por uma perspetiva histórica: ela fala de antes, o tempo da vida em si, uma idade pré-histórica em que o homem não teve impacto sobre o planeta; depois a primeira vida, a vida do antropoceno, a que vivemos e em que estará a humanidade no final do século – “é a vida lamentável deles”, diz Mickaël de Oliveira ao Expresso, “uma vida muito longa”. A seguir virá a terceira vida, como uma utopia, em que todos terão de sair da cidade juntos e erguer uma nova civilização. O primeiro ato político, urgente, é evidente: vão ter de se amar. /CLAUDIA GALHÓS