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Pintora de vanguarda, entretanto esquecida, a espanhola Isabel Santaló vê a sua história contada numa “antibiografia”

Pintora de vanguarda, entretanto esquecida, a espanhola Isabel Santaló vê a sua história contada numa “antibiografia”

Quem é (e quem foi) Isabel Santaló, a artista que pertenceu a uma das primeiras gerações de mulheres dedicadas à pintura vanguardista? A visibilidade, até internacional, que alcançou nas décadas de 50 e 60 não impediu o tempo de a votar ao anonimato. Agora, Irene M. Borrego resgata-a do esquecimento no documentário “A Visita e um Jardim Secreto”, que se estreia esta quinta-feira

Este documentário invulgar recordou o trabalho precioso, em França, das edições Claire Paulhan, especialistas na publicação de diários raros ou esquecidos, assim como em correspondência de vários artistas, alguns deles também já olvidados pelo tempo. Há algo disso nesta “visita” da espanhola Irene M. Borrego, uma coprodução com a portuguesa Cedro Plátano.

O filme aproxima-se da figura de Isabel Santaló e certamente poucos de nós ouviram sequer falar desta pintora espanhola, nascida nos anos 20. Pertenceu a uma das primeiras gerações de mulheres dedicadas à pintura vanguardista. E chegou a ter visibilidade, até internacional, nas décadas de 50 e 60, desaparecendo em seguida “como se a Terra a tivesse tragado”.

Este filme encontra-a no seu final de vida, a partilhar com um gato um pequeno apartamento de Madrid. Por vezes surgem vozes exteriores, que a cineasta procurou, curiosa como um gato também ela, como se estivesse num thriller... Uma das poucas pessoas que se lembra de Santaló ativa é Antonio López, o pintor que entrava, lembrar-se-ão os cinéfilos, no inesquecível “O Sol do Marmeleiro”, de Victor Erice nos anos 90. Retrato de uma artista, podemos intuir. Mas será mesmo assim?

Admita-se a classificação, mas à condição de apontar que este filme foi elaborado como uma “antibiografia” (palavras de Irene) e que, em vez de ser um “filme sobre” (Isabel Santaló), é muito mais um “filme com”. E abre-se a muitas coisas: à meditação em torno da memória e do esquecimento; à condição feminina e ao papel da mulher num país que passou décadas sob a alçada da ditadura; à efemeridade que rodeia a arte e a injustiça do mundo que a promove...

Delicado, discreto, sem precisar de dar ênfase a aspetos sociopolíticos, fixa com nobreza Isabel Santaló a algo que talvez lhe tenha escapado sempre entre os dedos: um tempo presente.

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