6 maio 2023 9:32

Cage é um one-man-show de overacting, que sai daqui como entrou: ainda a sonhar com o dia em que fará de Drácula
A história de “Renfield”, quarta longa-metragem de Chris McKay, com Nicolas Cage no elenco, envolve um subcaricatural grupo de narcotraficantes e uma desbragada mulher-polícia
6 maio 2023 9:32
Não sendo caso único, Cage é, reconhecidamente, uma das vedetas de Hollywood cujo talento tem estado numa relação de inversa proporcionalidade com a qualidade dos projetos em que embarca. A quarta longa de McKay é só mais uma das provas que se junta ao processo sobre os questionáveis critérios de escolha do ator — que, aqui, condescendeu em interpretar um papel secundário, para cumprir um ‘objetivo de carreira’: vestir a pele do Conde Drácula.
Se assim começamos, é porque nesta curiosidade se esgota todo o interesse de “Renfield”: uma autodenominada “farsa de vampiros” que, como o título indica, se centra nas desventuras do esgrouviado, mas leal, servo da sanguessuga humana da Transilvânia. Quem o encarna é Hoult (sempre demasiado asseado e razoável para fazer jus à personagem), que aterra na Nova Orleães dos nossos dias e, em particular, numa sessão de terapia de grupo para vítimas de relações tóxicas. Ainda mal nos sentámos, e já o filme nos entregou, de bandeja, a única piada que tem para nos oferecer (é mesmo só essa). O que se segue é a fastidiosa crónica da tentativa de libertação de Renfield do jugo do seu mestre narcisista, num processo que procede pela acumulação de elementos disjuntos: acrescentos e apartes que parecem ter sido colados com cuspo. Neste quadro, a verdadeira dificuldade é determinar qual deles se mostra mais inoperante: se o interminável desfile de piadas óbvias e máximas de autoajuda, se as sequências de ação violentas e ironicamente desafetadas que trazem à cabeça os filmes da série “Kingsman”… Quanto à história, ou ao que por ela se faz passar, o melhor que pode dizer-se é que envolve um subcaricatural grupo de narcotraficantes e uma desbragada mulher-polícia, que vai fazendo as vezes de parceira e pretendente de Renfield. E, depois, há Cage: um one-man-show de overacting, que sai daqui como entrou: ainda a sonhar com o dia em que fará de Drácula.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.