
Davy Chou realiza este drama, protagonizado por Park Ji-min e com Oh Kwang-rok e Guka Han no elenco. O crítico Francisco Ferreira dá-lhe três estrelas
Davy Chou realiza este drama, protagonizado por Park Ji-min e com Oh Kwang-rok e Guka Han no elenco. O crítico Francisco Ferreira dá-lhe três estrelas
Não é apenas um filme muito bonito sobre o desenraizamento, mas começa por aí. As ferramentas de trabalho de Davy Chou não são as ferramentas da sociologia. Já o sabíamos desde “Diamond Island”, auspiciosa estreia na longa, rodada em Phnom Penh. Este cineasta francês, filho de cambojanos que fugiram da ditadura de Pol Pot, lida com o desenraizamento à sua maneira, procurando a melancolia.
Neste sentido, não dispensa uma raiz autobiográfica por interposta personagem à procura da sua origem, embora a geografia e o contexto sejam distintos da história do cineasta. A heroína do filme, Freddie (Park Ji-min), é também ela francesa, mas de origem coreana. Foi dada para adoção ainda bebé, um casal francês trouxe-a para a Europa. Quando o filme começa, Freddie acaba de chegar sozinha ao seu país de origem.
Tem uma indeterminada vontade de encontrar os pais biológicos. Leva no bolso a morada do centro de adoção que a acolheu, vinte e tal anos antes. Quer decifrar um passado que não conhece mas que a magoa em silêncio. Por isso odeia aniversários. “Regresso a Seul” não sublinha o drama, prefere ir medindo o pulso às sensações. Freddie vive de ecos. Este efeito é claro quando ela encontra o pai coreano. Ou quando se afunda nas noites de Seul regadas a soju.
Davy Chou não se queda na gravidade do tema social, não vitimiza Freddie nem julga o orgulho que ela usa como defesa. Pelo contrário, oferece-lhe um destino sentimental digno de romance, recheado de contradições e reviravoltas, num leque temporal de sete anos entre a primeira metade da década passada e a chegada da pandemia.
Freddie hesita, tropeça, engana e é enganada, supera-se, até aprender a “fazer desaparecer quem quiser com um estalar de dedos”. Vai lambendo as feridas, até ao desfecho. É uma personagem por inteiro. Gostámos de passar duas horas com ela.
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