Cinema

Cinema: Disney apresenta um “Estranho Mundo” e Searcher Clade é o tímido herói da história

2 dezembro 2022 9:14

Francisco Ferreira

Don Hall e Qui Nguyen estreiam “Estranho Mundo”, um filme de animação com as vozes de Jake Gyllenhaal, Dennis Quaid, Alan Tudyk e Lucy Liu. O crítico Francisco Ferreira dá-lhe uma estrela

2 dezembro 2022 9:14

Francisco Ferreira

A aposta da Disney para o inverno traz a assinatura dos responsáveis por “Raya e o Último Dragão”, mas fica vários furos abaixo da média da casa. No papel temos uma história com potencial sobre três gerações da mesma família, os Clades, num tempo indefinido (um futurismo retro com carros voadores e cozinhas dos anos 50...) e num espaço por reconhecer (é a Terra, e o planeta está doente...).

Filho de um explorador que ganhou reputação e desapareceu 25 anos antes nas montanhas, Searcher Clade, tímido herói da história, é agricultor e bom pai de família. Ele é branco, a mulher Meridian é negra, e o filho mestiço de ambos, Ethan, é gay — não vá alguém ficar de fora do leque da representatividade. Tudo certo. Nada contra. Passemos à frente do politicamente correto, que não acaba aqui. Em Avalónia, a cidade em que a aventura decorre, Searcher Clade é uma celebridade. Foi ele quem deu origem ao cultivo em massa do Pando, a planta verde-fluorescente dotada de assombrosa energia eco que condenou os combustíveis fósseis. Isto é: os ingredientes estão cá todos. O filme de aventuras com salteadores à moda de “Indiana Jones” e buddies de “Star Wars” junta-se à parábola ecologista e a mensagem de inclusão social em upgrade de 2022. É a Disney a ‘sondar mercado’, pois claro. O que já não se aceita é que o argumento deste “Estranho Mundo”, de tão pobre que é, chegue ao ponto de banalizar e até infantilizar algo que a conservadora Disney sempre defendeu: as relações familiares. O desenho das personagens é frouxo. As criaturas são desalmadas, feias e tombam para a caricatura. Falta imaginação, frescura, antagonismo a esta história híbrida em que o agradar a gregos e troianos parece ser a única prioridade. Um filme como “Estranho Mundo” só existe hoje porque a Disney, que nunca foi tão poderosa enquanto empresa, está com dificuldade em provar-nos que ainda sabe ser genuína. Neste ponto, “Estranho Mundo” não é apenas um passo em falso: é um filme sintomático, pela negativa, do cinema industrial dos nossos dias. / Francisco Ferreira