Cinemateca homenageia António da Cunha Telles
Na semana em que o cinema português fica mais pobre com a morte de António da Cunha Telles, a Cinemateca Portuguesa exibe o primeiro filme do realizador: “O Cerco” (1970)
Acontece este sábado a homenagem ao cineasta português António da Cunha Telles, que morreu na quarta-feira aos 87 anos. “O Cerco” estreou-se em maio de 1970, no festival de cinema de Cannes, em França, e é exibido, mesmo dia da cerimónia fúnebre do realizador, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. A entrada é gratuita.
“É um bom exemplo de uma linguagem moderna no cinema português”. "É um eco e prolongamento do 'Cinema Novo' dos anos 1960", pode ler-se na página oficial.
O filme, que não escapou aos cortes da censura do Estado Novo, representa a estreia de António da Cunha Telles na realização, juntando-se a um prolífico percurso no cinema português, em particular como produtor e distribuidor. “António Cunha Telles adiou o desejo de criar os seus próprios filmes para produzir os dos seus contemporâneos”, reagiu o primeiro-ministro António Costa à notícia da morte do cineasta.
A sinopse de "O Cerco" situa a narrativa em Lisboa em 1969. "Originária da alta burguesia, Marta, de vinte e poucos anos, abandona o marido em busca duma condição de vida mais autêntica. Sabe o que repudia, mas sente-se confusa quanto ao que pretende. Hospedeira de terra, modelo duma 'boutique', acaba por contactar Vítor Lopes, devido aos seus problemas económicos. Trata-se dum contrabandista de baixo estofo que um dia aparece morto no Tejo".
A protagonista do filme é a atriz Maria Cabral (1941-2017), até então praticamente desconhecida e que se torna "no rosto emblemático do segundo fôlego do 'Cinema Novo'", como afirma o crítico de cinema Jorge Leitão Ramos, no portal Memoriale.
António da Cunha Telles é considerado um dos fundadores do 'Cinema Novo' português dos anos sessenta, na esteira da 'Nouvelle Vague' francesa, e foi uma peça fundamental no aparecimento de uma nova geração de realizadores, como Paulo Rocha e Fernando Lopes, cuja estética, pensamento e posicionamento político colidiam com o cinema da altura em Portugal, então sujeito ao regime de ditadura.
Apesar da multiplicação de funções no cinema, na produção, distribuição e formação, e em cargos diretivos, na administração do antigo Instituto Português de Cinema e na Tobis, Cunha Telles admitia em 2017: "No meu íntimo sou mais realizador do que produtor".
Enquanto realizador, António da Cunha Telles fez poucos filmes, assinando, além de "O Cerco" (1970), "Meus Amigos" (1974), "Continuar a Viver ou os Índios da Meia Praia" (1976), "Pandora" (1993) e "Kiss Me" (2004).
Também participou no filme coletivo "As Armas e o Povo" (1975), que retrata o período vivido em Portugal entre o 25 de Abril e o 01 de maio de 1974.
Segundo a filha, Pandora da Cunha Telles, António da Cunha Telles tinha praticamente finalizado o filme "Cherchez la femme", a partir de uma obra de Mário de Sá-Carneiro.
António da Cunha Telles, membro honorário da Academia Portuguesa de Cinema, foi agraciado em 2018 pela Presidência da República com o grau de Grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes