No final da última década, Marcello, Munzi e Rohrwacher conjugaram esforços, tendo em vista a produção de um ‘filme unificado’ que tivesse por centro a juventude italiana dos nossos dias. Para concretizar esse projeto, os cineastas fizeram-se à estrada, percorrendo o seu país natal de lés a lés (de Milão a Palermo) e aproveitando cada pit stop realizada durante a viagem para entrevistar grupos de amigos na casa dos 18 anos que, frente à câmara, nos vão falando sobre as suas aspirações e inquietações quanto ao futuro.
Desses testemunhos díspares alimenta-se um trabalho que, à primeira vista, parece não ser mais do que uma reportagem de luxo, uma espécie de censo sobre a Itália sub-18. Porém, à medida que os depoimentos se sucedem (num quadro em que a discreta voz off de Rohrwacher os vai cosendo entre si), percebe-se que “Futura” prima, afinal, pela improvável unidade coral do seu tom.
Ela resulta, sobretudo, do modo desiludido como a maioria daqueles jovens se vai pronunciando em relação a uma Itália que, segundo eles, pouco tem para lhes oferecer à laia de futuro, forçando-os assim a perspetivar uma vida além-fronteiras que evite a estagnação dos seus sonhos (reforçada pela pandemia, que o filme retrata com inteligência).
Trata-se aqui de uma deceção que o documentário procura ‘equilibrar’ de uma forma subtil, enxertando na montagem imagens de arquivo que nos devolvem à Itália do pós-guerra para, por via de um par de rápidas pinceladas, expor as muito precárias condições de vida da juventude da época.
Essas excursões operam menos como desmentidos (isto é, como tentativas de infirmação da visão do mundo dos entrevistados) do que como instâncias de contextualização e relativização – formas de integrar o passado num filme cujos intervenientes têm os olhos postos no futuro. Um belo ensaio sobre a Itália contemporânea, tal como vista pelos seus jovens (os de hoje e os de ontem).
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