O festival de cinema Leffest, que este ano comemora a 16ª edição, procurou desde sempre sublinhar as relações do cinema com outras artes, e há um filme desta colheita de 2022 especialmente elucidativo sobre o assunto. Numa das primeiras cenas de “Poet” (integra a Competição Internacional), novo trabalho de Darezhan Omirbayev, um grupo de homens de letras discute que futuro terá a língua cazaque, e é o próprio Omirbayev que, num papel episódico, deixa a sentença: “Parece que a Humanidade caminha para uma língua e uma cultura únicas.” De facto, concluem aqueles poetas, a globalização trouxe efeitos nefastos ao modo como comunicamos.
Das “6700 línguas” que ainda se estima existirem no planeta, “desaparece uma a cada duas semanas”. Omirbayev, figura de proa do cinema cazaque desde os memoráveis “Kairat” e “Kardiogramma” dos anos 90, não se revela nada otimista face ao futuro da língua do seu país. E depois leva-nos para uma história com saltos incessantes entre o presente e o passado que, afinal, não faz mais do que traçar a resistência de um povo — figurada naquele poeta nómada de meados do século XIX, Makhambet, que negou submeter-se à vontade do poder alheio e pagou com a vida. É o Cazaquistão enquanto solo colonizado, ontem, hoje e desde os tempos imemoriais, dos impérios que caíram (o soviético) aos que reinam hoje e trazem novas formas de destruição (o capitalismo e a internet).
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