É uma comédia, o espectador percebe isso desde o primeiro momento — ou mesmo antes, se tiver olhado para o cartaz pelo ângulo certo. É uma comédia, mas carrega consigo algo de mais fundo e aflitivo, como se vê, também desde o primeiro momento, pelas práticas médico-cirúrgicas e medicamentosas do dr. Burt Berendsen/Christian Bale.
Estamos no início dos anos 30 e ele ocupa-se de veteranos da Grande Guerra que vieram das trincheiras e dos campos de batalha da Europa com mutilações extremas, dores perenes, e tanto os trata pela reconstrução plástica como pela administração de produtos — alguns deles ‘experimentais’ — com todo o ar de pertencer a uma gama se não formal e legalmente interdita pelo menos de contornos tão duvidosos que é melhor manter as autoridades fora de portas e ser muito, mas mesmo muito, discreto. Ele é, por sinal, um homem que, nessa guerra, perdeu um olho, tem o corpo bordado a cicatrizes de estilhaços e usa uma cinta ortopédica que ampara lesões na coluna. Todavia — e é o primeiro falso isco que o filme lança e depois nem usa —, não está nessa prática médica nas fronteiras da deontologia o alimento para o fio dramático do filme. Aliás, se quiséssemos definir esse ‘alimento’, seria muito complicado de o isolar, pois não existe um motivo para o tecido de “Amesterdão”.
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