Cinema

Quem é a Cesária Évora que reencontramos (e redescobrimos) no cinema?

21 outubro 2022 10:37

Jorge Leitão Ramos

Jorge Leitão Ramos

texto

Jornalista

Cesária Évora (1941-2011) numa fotografia inédita

joanne savio

A vida da diva dos pés descalços deu um filme. “Cesária Évora”, de Ana Sofia Fonseca, estreia-se na próxima semana nos cinemas portugueses

21 outubro 2022 10:37

Jorge Leitão Ramos

Jorge Leitão Ramos

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Jornalista

A estreia em sala de “Cesária Évora”, o tocante documentário sobre a grande senhora da música de Cabo Verde que Ana Sofia Fonseca aprontou (idealizou, realizou e produziu) é ocasião para desvendar um pouco como uma jornalista com méritos conhecidos se aventurou a lides cinematográficas, em boa hora e melhores resultados. Foi um processo com uma longa gestação, disse-me, quando no encontrámos, uma destas tardes para falar do filme.

No princípio era a música, e as histórias da Cesária que, anos a fio, “ouvia contar em São Vicente. E lembro-me perfeitamente de, em 2011, dias depois da morte dela, estar à porta da casa de família do meu marido, no Mindelo, e ficar a ver as pessoas que passavam. Senti um sentimento de tristeza, de uma certa orfandade no olhar dessas pessoas e pensei ‘alguém tem de fazer um filme sobre esta mulher, é uma história que tem de ser contada’. Mas nessa altura estava muito longe de me aproximar do cinema”. Todavia, nunca se cruzara com ela, a não ser como espectadora em recitais.

“A neta da Cesária disse-me, no outro dia, que eu era a pessoa que melhor conhecia a avó. Não é verdade, claro, mas depois de todo este tempo a trabalhar sobre ela, de ver e ouvir centenas de horas de arquivos, eu sinto-a muito próxima. Nos últimos cinco anos, foi a pessoa mais presente na minha vida. Mas nunca a conheci pessoalmente”. No processo nunca pensou em fazer uma reportagem televisiva? “Não, nunca. Até porque nenhuma televisão, hoje em dia, passa uma reportagem de hora e meia. No fundo, o que eu gosto é de contar histórias e o cinema dá-me um tempo mais confortável para o fazer. O tempo da reportagem e o tempo de um filme são diferentes”. Obviamente: Ana Sofia Fonseca não está só a falar de duração, mas da respiração com que a narrativa se desenrola. E da nobreza que ao cinema associamos. Por isso, nada de pressas.

“Fui adiando, à espera de ganhar alguma experiência.” Entretanto, realiza um primeiro filme (“Setembro a Vida Inteira”, 2017), um documentário sobre os vinhos portugueses — e surge o desafio. “Estava, outra vez, em São Vicente, quando um amigo entra pela porta e me anuncia que, no ano seguinte, a Escola de Samba Tropical ia fazer 30 anos e o tema escolhido para o Carnaval seria uma homenagem à Cesária Évora. E disse-me: ‘tens de vir desfilar’. Eu não sou muito dessas coisas, mas senti ‘é agora, é o momento de arrancar com o filme’. E na semana seguinte comecei logo a fazer contactos.”

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.