Exclusivo

Cinema

“Corte!” é um pastiche de altos e baixos e uma farsa do cinema em que os mortos-vivos são a equipa do filme

Legenda
Legenda

Michel Hazanavicius apresenta uma comédia de terror, com Romain Duris, Bérénice Bejo e Grégory Gadebois nos principais papéis. O crítico Francisco Ferreira dá-lhe duas estrelas

“Corte!” é um pastiche assumido e um filme voluntariamente trapalhão que tende a despertar simpatia. Vê-lo como um resultado óbvio — e paródico — dos tempos da pandemia não é descabido, mas a torção mais interessante vem do facto de termos à nossa frente um filme de zombies que se torna farsa do próprio cinema e dos egos de quem o faz. Também simpático é sublinhar-se a atitude de Hazanavicius, que, depois dos Óscares e de toda a ‘marmelada cinéfila’ que “O Artista” lhe trouxe, dá um passo atrás, optando por um filme de género que manda o ‘prestígio’ às urtigas — algo que nem por isso impediu Cannes 2022 de lhe dar honras de abertura na Croisette.

“Corte!” — esteve para se chamar “Z!”, em homenagem à “série Z”, mas entretanto os tanques de Putin invadiram a Ucrânia e o título foi alterado... — é um suposto remake da comédia zombie “One Cut of the Dead”, do japonês Shin’ichirô Ueda, que já de si era exercício de metacinema. No filme nipónico, rodado num único plano sequência, uma equipa de cinema fazia um filme de terror num local abandonado da II Guerra Mundial e dava de caras com zombies a sério.

“Corte!” parodia a situação, com a câmara a saltar de mão em mão até Hazanavicius passar para os bastidores, para a história da rodagem do filme, que em simultâneo se vê, as suas vedetas caprichosas, os seus técnicos amuados, numa espiral de loucura que enquadra e logo reenquadra o que antes foi visto por outro ponto de vista.

Podia o ilusionismo ser mais divertido, com todas aquelas litradas de tinta a escorrerem pelos planos? Podia. É coisa de altos e baixos. Não se perde contudo a sátira às relações de poder daquela microssociedade privilegiada que a equipa de cinema representa. Por outro lado, há aqui uma modéstia de fachada no “filme rápido, barato e dentro da média” que “Corte!” finge ser, a começar pelo elenco. Romain Duris e Bérénice Bejo são rostos de um star system francês que também não escapa ao passe-vite da caricatura. / Francisco Ferreira

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas