Cinema

“Nunca Nada Aconteceu”: a história da lenta implosão de uma família portuguesa

7 outubro 2022 20:23

Gonçalo Galvão Teles apresenta um drama com Filipe Duarte, Ana Moreira e Rui Morisson entre os principais nomes no elenco. O crítico Vasco Baptista Marques dá-lhe uma estrela

7 outubro 2022 20:23

Após vários adiamentos, eis que estreia enfim nas salas a terceira longa de Gonçalo Galvão Teles, “Nunca Nada Aconteceu” (cujo argumento teve por base um texto original de Luís Filipe Rocha). Nela, começamos por seguir António (Morisson): um velho viúvo que abandona a sua propriedade rural para se instalar nos subúrbios de Lisboa. Nomeadamente no apartamento onde o seu filho (Duarte) vive com a mulher (Moreira) e o seu filho adolescente (Bernardo Lobo Faria).

É com a lenta implosão desta família — cujos membros se vão deixando devorar pelo desemprego (o pai), a frustração (a mãe), o desenraizamento (o avô) e a depressão (o filho) — que, ao longo de duas horas, se ocupará este filme. Nas cenas iniciais, a primeira coisa que se nota é o esforço que Galvão Teles faz para projetar no espaço a tristeza calada que parece ligar entre si as personagens, encerrando desde logo as suas interações no interior de um apartamento acanhado e pintado em cores sombrias (a noite é, aliás, a única altura em que aqueles corpos se encontram). Saliente é, também, o modo como se procura emprestar elevação ao drama, por via de uma realização e de uma montagem que evitam as soluções mais óbvias. Será por aqui, no entanto, que “Nunca Nada Aconteceu” começará a derrapar, impondo uma série de marcas de estilo que para nada servem: desde aqueles grandes planos destituídos de força emocional até àquelas elipses que, de tão abruptas, se limitam a chamar a atenção para si mesmas. Tudo isto seria de somenos importância se o filme se mostrasse capaz de aprofundar as histórias das personagens, que, infelizmente, ficam sempre numa espécie de ‘estado larvar’, isto é, mais esboçadas do que desenhadas: veja-se, por exemplo, como se trabalha mal todo o subenredo que diz respeito à pulsão de morte do filho do casal e dos seus amigos de escola, cujo desespero nunca se materializa nos planos. O resultado é um filme sem centro e demasiado longo para aquilo que tem para oferecer. / Vasco Baptista Marques