
O ciclo Rainer Werner Fassbinder — A Fúria de Viver está a partir desta quinta-feira no Cinema Nimas. Há oito filmes para ver até 26 de outubro
O ciclo Rainer Werner Fassbinder — A Fúria de Viver está a partir desta quinta-feira no Cinema Nimas. Há oito filmes para ver até 26 de outubro
Porque correu Fassbinder tão depressa, com a mesma energia louca e a mesma aura escandalosa que também colou à vida, senão pelo desejo de recompor uma Alemanha fragmentada após o III Reich e o traumatismo do nazismo? Fassbinder nasce em 1945, no ano em que a guerra acaba. A sua obra devora as contradições dessa herança como um ogre. Todos os seus filmes, todos os assuntos, motivos, lugares e personagens que ele cria passam pelo destino da Alemanha e por uma interrogação constante de si próprio nesse contexto de martírio e ansiedade extrema.
Com a História, vai ele manter uma relação de parricida: denúncias viscerais do poder, ataques violentos ao Estado, pulsões criminosas do desejo, paixões dilaceradas. Até que a vida se interrompe brutalmente aos 37 anos, por todo o tipo de excessos, já levava ele mais de 40 longas-metragens. Oito delas, realizadas entre 1971 e 1979, podem agora ser revistas no grande ecrã em cópias digitais restauradas.
“Effi Briest” (1974) e “Petra von Kant” (1972) são histórias de mulheres cercadas por casulos. “O Casamento de Maria Braun” (1979) observa o pós-nazismo pelo ponto de vista de uma mulher que lhe sobrevive e se adapta a uma nova economia. “Mamã Küster Vai para o Céu” (1975) e “Roleta Chinesa” (1976) são meditações nada isentas de ironia sobre a vida conjugal na Alemanha.
Muito tempo desconsiderado, visto como obra menor, “Cuidado Com Essa Puta Sagrada” (1971), história de uma rodagem en panne (com Lou Castel no alter ego de Fassbinder), é um filme fabuloso sobre a produção de cinema e uma inércia no trabalho que o realizador detestava. Mas se só puder ver um dos oito filmes que agora chegam ao Nimas não perca o extraordinário “O Medo Come a Alma” (1974, na foto) e aquela solitária viúva que se apaixona por um imigrante magrebino muito mais novo que ela, causando alarme na sociedade preconceituosa que os rodeia. Este melodrama inspirado em Sirk é Fassbinder no mais apurado grau do seu talento.
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