Cinema

Quando a coragem triunfa: o cinema que o Festival de Veneza nos vai dar para os próximos meses

18 setembro 2022 18:47

Jorge Leitão Ramos

Laura Poitras, realizadora de “All the Beauty and the Bloodshed”, junta um novo alto galardão à sua galeria de prémios, onde se contam já um Óscar, um Emmy e um BAFTA (todos por “Citizenfour”)

ernesto ruscio/getty images

A crise da família, questões de identidade e temáticas queer dominaram o Festival de Veneza. “All the Beauty and the Bloodshed”, vencedor do Leão de Ouro, tem isso tudo

18 setembro 2022 18:47

Jorge Leitão Ramos

Só mesmo quem estivesse no segredo dos deuses, na intimidade dos jurados de Veneza, poderia prever o Leão de Ouro que culminou a 79ª Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica. “All the Beauty and the Bloodshed” da americana Laura Poitras, não estava nos vaticínios de ninguém. Único documentário na competição oficial Venezia 79, é vibrante o olhar de Poitras sobre a vida, a obra e o ativismo de Nan Goldin contra a família Sackler, no sentido de banir o seu nome dos museus que haviam aceitado contribuições filantrópicas.

A causa desse combate é conhecida: a fortuna dos Sackler baseara-se na produção e venda de medicamentos viciantes que conduziram milhões de pessoas à dependência e muitas à morte. Mas o melhor do filme não está na militância, derradeiro capítulo de um percurso existencial alucinante, está na coragem sem véus com que Nan Goldin o descreve, revelando aspetos íntimos, seus e familiares, nunca antes expostos. No fundo, a mesma coragem que as suas fotografias e instalações manifestam e as tornam tão interpelantes. Poitras junta, assim, um novo alto galardão à sua galeria de prémios, onde se contam já um Óscar, um Emmy e um BAFTA (todos por “Citizenfour”, o documentário sobre as revelações de Snowden, de 2014).