Este “A Besta” tem uma vocação de série-B à moda antiga que lhe dá uma nota de simpatia e o distingue das estreias deste verão. São águas passadas, é verdade, mas há aqui um lastro daquilo que Mark Robson ou Phil Karlson outrora ofereceram ao cinema americano low budget dos anos 40 e 50, histórias geralmente desempoeiradas e que iam direto ao assunto que tratavam sem pretensão.
No caso do islandês Baltasar Kormákur, cada vez mais decidido a dar rumo à carreira nos States, ele que tem uma predileção por histórias de sobrevivência com personagens em risco de vida, nem é tanto assim, “A Besta” é um ‘falso filme barato’ que nos chega com a chancela da Universal, nunca Robson ou Karlson tiveram CGI à altura (algo que nem sequer existia naquele tempo...) para animar a besta do título — no caso, um leão enraivecido pela morte da sua prole às mãos de caçadores furtivos e que desata a estripar tudo o que de forma humana lhe aparece à frente na savana sul-africana. Idris Elba, ator que é rosto recorrente de filmes de super-heróis, veste aqui a pele do Dr. Nate Samuels, que está de visita à África do Sul para sarar feridas.
A mulher de Nate, originária daquele país, morreu de cancro após a separação deles, com o médico viajam as duas filhas adolescentes do casal com quem ele espera poder reconciliar-se. Aguarda-os Nathan, tio das miúdas, que ganha a vida nos safaris e protege uma reserva natural não aberta a turistas. Aqui jogará “A Besta” os seus trunfos, com Nate a proteger as duas filhas do leão que tem o diabo no corpo, à medida que Kormákur vai assustando a audiência com momentos de terror de qualidade variável. Entretanto, percebe-se que o argumento podia ter ganho outra consistência. Há mesmo lá para o fim um ‘momento Marvel’ totalmente escusado. Mas passa-se por cima desse passo em falso: “A Besta” é eficaz quanto baste, defende em hora e meia um espírito B-movie sem espinhas nem gordura.
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