A Portugal Film Commission (PFC) tem os dias contados. Ou melhor, já não tem dias para contar. Os três anos perspetivados para a sua duração – e prolongados por mais escassos meses – terminam esta sexta-feira. Um projeto que foi "claramente de sucesso" para a diretora executiva Sandra Neves, segundo conta em declarações à agência Lusa. Mas apesar de ter certezas sobre o passado da PFC, parece nada saber em relação ao seu futuro. “Não recebi qualquer convite para sair ou para ficar”, disse, acrescentando que, apesar das propostas enviadas, escassearam respostas.
Ao Expresso, o Ministério da Cultura clarifica: "Naturalmente, quem define o modelo a adotar é o Governo, que está comprometido com uma solução estruturada e definitiva, uma solução que vai substituir o grupo de projeto atualmente existente, que por natureza é limitado no tempo”.
No comunicado do Ministério da Cultura, partilhado dois dias depois das declarações de Sandra Neves, a 22 de dezembro, pode ler-se “compromisso político”, “robustecer” e “reforçar o papel da Portugal Film Commission”, sem existir menção de como tenciona fazê-lo. Mas esse “modelo de futuro”, diz o Ministério, fica por “anunciar brevemente”.
Numa carta aberta endereçada ao Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, três estruturas regionais (as film commissions do Centro, Arrábida e Alentejo e Ribatejo), alegam continuar no escuro em relação a tais intenções. Além do “clima de grandes incertezas” que se vive internamente, no documento partilhado com os jornalistas esta quarta feira está também assumida a preocupação face à potencial integração da Portugal Film Commission na estrutura do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). Algo que, para as estruturas regionais, significaria a “perda de autonomia”, além da limitada “capacidade de resposta e rapidez de ação e decisão de que o setor necessita”. O Ministério não se pronuncia sobre a questão, respondendo que “é uma decisão que cabe ao Conselho de Ministros”.
O objetivo primário da criação da Portugal Film Commission assenta no desenvolvimento de uma sinergia harmoniosa entre as indústrias criativas e o turismo. Como? Potenciando o país enquanto destino para a rodagem de produções internacionais. Um projeto descrito nesta carta como “verdadeiramente essencial à criação de um pilar económico decorrente do setor fílmico”, fomentando o interesse das produções estrangeiras que valeu ao país uma riqueza de mais de 220 milhões de euros.
A PFC conseguiu, nestes três anos de existência, trazer para solo português a rodagem de títulos blockbuster como “Velocidade Furiosa 10”, além de séries que conquistaram audiências como a quinta temporada de “Casa de Papel” ou a prequela de um dos maiores êxitos de sempre, “House of the Dragon” (“Casa do Dragão”, na tradução portuguesa).
Portugal colocou-se na rampa de lançamento e os grandes estúdios escolheram país para a construção dos seus cenários. Tal foi a procura que, em maio de 2022, Portugal esgotou os incentivos do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema – houve 43 candidaturas a incentivos fiscais para filmagens. O teto máximo de 12 milhões de euros, orçamentados para 2022, teve de ser reforçado com mais €10,9M. Em 2023, está previsto um aumento da sua dotação anual até 14 milhões de euros.
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