6 novembro 2022 8:46

rui duarte silva
Da zanga às pazes oferecidas por Saramago, das discussões ideológicas com Vergílio Ferreira às queixas de José Régio, das polémicas neorrealistas com Mário Dionísio à recusa de Agustina em assinar um protesto pelo assalto da PIDE à SPE, as cartas recebidas por Óscar Lopes ao longo de décadas constituem um poderoso retrato do modo como pensavam, se relacionavam e combatiam os intelectuais portugueses
6 novembro 2022 8:46
E
scrita em Lanzarote, a missiva tem data de 20 de outubro de 1999. Podia ser apenas mais uma entre as muitas centenas de cartas recebidas por Óscar Lopes ao longo de décadas e agora transferidas com toda a biblioteca de mais de 40 mil volumes para a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Outras centenas estão perdidas para sempre. Por questões de segurança, o professor e linguista queimava-as, experimentado por vários assaltos da PIDE a sua casa. Aquela carta tem a particularidade de ser assinada por José Saramago. Há um ano e 12 dias fora distinguido com o Prémio Nobel pelo conjunto da sua obra. O escritor usa as primeiras três linhas e meia para agradecer o envio do livro “5 Motivos de Meditação” e outros anteriores sobre os quais nada dissera. De imediato, sem o intervalo de um parágrafo, vai ao âmago do verdadeiro tema da missiva: as declarações menos abonatórias sobre a qualidade da sua obra atribuídas ao também professor universitário.