1 outubro 2022 18:11

Retrato de Ricardo III (1452 – 1485), da Sociedade de Antiquários de Londres
graeme hunter
Ricardo III perdeu o cavalo, o reino e a vida na batalha de Bosworth, em 1485; os súbditos perderam-lhe os restos mortais, até serem descobertos em 2013. Um filme e uma exposição na Wallace Collection, em Londres, contam a história
1 outubro 2022 18:11
Entrados no outono, é tempo de nos prepararmos para o inverno (frio) do nosso descontentamento, que não virará em verão glorioso com o sol de Portugal. Sim, penso na Ucrânia, mas veio-me à ideia o monólogo inicial do último rei plantageneta, Ricardo III (1452-85), na homónima tragédia histórica de Shakespeare, aproveitado por John Steinbeck para título do seu último romance, “O Inverno do Nosso Descontentamento”, publicado em 1961. Toda a gente sabe qual é o monarca britânico que na hora da morte estava pronto para trocar o reino por um cavalo.
Reles de figura, “disforme, inacabado, lançado antes de tempo para este mundo que respira, quando muito meio feito e de tal modo imperfeito e tão fora de estação que os cães [lhe] ladram quando pass[a], coxeando, perto deles”, Ricardo III não conseguiu que lhe dessem um cavalo. Perdeu o reino e morreu a 22 de agosto de 1485, derrotado por Henry Tudor — o futuro Henrique VII — na Batalha de Bosworth, a peleja decisiva da Guerra das Rosas, que selou a mudança da Dinastia York para a Dinastia Tudor. Sepultaram-no à pressa no Greyfriars Friary (Convento Franciscano dos Frades Menores), em Leicester, mas 10 anos depois Henrique VII mandou erigir um túmulo simples por cima da campa. O convento, porém, foi destruído em 1538, na sequência da dissolução de todos os conventos e mosteiros católicos, ordenada por Henrique VIII. Shakespeare terá escrito a peça por volta de 1593, no apogeu da era Tudor, mais de meio século depois.