A Revista do Expresso

Futebol português precisa dos milhões da UEFA: é uma casa onde não há pão

20 maio 2023 9:02

António Tadeia

Desafios “Les joueurs de football” (1908), Henri Rousseau, Guggenheim Museum, Nova Iorque

barney burstein/getty images

Não para vencer internacionalmente, mas para ganhar cá e garantir que chega aos milhões da UEFA. Se estes diminuem, o que aumenta é o ruído

20 maio 2023 9:02

António Tadeia

O Sporting-Benfica de domingo pode proporcionar já, a uma jornada do fim, a recuperação do título de campeão nacional ao Benfica, que não o consegue desde 2019. Se assim for, é certo que para o Sporting acarretará um ano longe da Liga dos Campeões e dos milhões de euros que ela vai garantindo aos grandes clubes do futebol português. Só em 2022/23 o total recebido pelos três participantes nacionais superou os 150 milhões. E, quando se estima que a reformulação das competições, que a UEFA levará a cabo a partir de 2024, conduzirá ao incremento destes valores em pelo menos 50 por cento, para as equipas portuguesas as contas não são só de somar. É que a perda de um lugar no ranking europeu, em favor dos Países Baixos, significa que a partir de 2024/25 só haverá uma equipa nacional com certeza de entrada — com uma segunda a depender de duas pré-eliminatórias e a terceira a cair nas competições secundárias e muito menos lucrativas. Se as coisas em Portugal já aquecem neste momento, com três vagas, piorarão bastante quando só tivermos duas. Não se adivinham tempos fáceis.

A primeira questão que se coloca aqui é a de saber se a Liga dos Campeões é para os nossos clubes. Não é. Aliás, fruto do alargamento do total de participantes dos países dominantes, sê-lo-á cada vez menos — a partir de 2024, além das quatro equipas que já lá colocam, eventualmente cinco, se vencerem a Liga Europa, os primeiros países do ranking têm quase a certeza de meter ainda mais uma, por via das vagas suplementares atribuídas às duas nações com melhor média de pontos na temporada imediatamente anterior. Isso e um domínio avassalador do marketing global — que leva a que mesmo em mercados periféricos como o nosso, o segundo clube de qualquer adepto seja quase sempre de Inglaterra, Espanha ou Itália — conduziu-nos à realidade de hoje. É uma realidade em que, para impedir a secessão dos mais poderosos, a UEFA vai mudando a Liga dos Campeões e, a cada mudança, aproxima-a em benesses do que poderia ser uma eventual Superliga europeia de organização privada. E porque é que a UEFA não quer esta Superliga? Porque no dia em que ela nascer deixa de controlar a receita e de poder fazer a sua distribuição, não só de acordo com princípios de solidariedade mas também com os seus interesses.