20 maio 2023 9:04

ESPANTO Marcel Proust considerou a “Vista de Delft” “a pintura mais bonita do mundo”
margareta svensson/mauritshuis
De todos os grandes pintores da Idade de Ouro, altura em que os pequenos e sujos Países Baixos surgiram como uma potência global improvável, Johannes Vermeer é o mais amado e o mais desarmante. Rembrandt dá-nos grandeza e fragilidade humana, Frans Hals dá-nos brio, Pieter de Hooch dá-nos burgueses ocupados, mas Vermeer faz um convite. A cortina trompe-l'oeil é aberta, e se as pessoas do outro lado não se voltam para nos cumprimentar é apenas porque estão à nossa espera
20 maio 2023 9:04
s pinturas de Vermeer são poucas em número, estão espalhadas por três continentes e raramente vão a algum lado. As 28 obras reunidas em Amesterdão para a deslumbrante exposição do Rijksmuseum representam cerca de três quartos da sua obra sobrevivente — “um número maior do que o artista alguma vez viu em conjunto”, observa Pieter Roelofs, cocurador da exposição, e fazem desta a maior exposição de Vermeer da história. O recorde anterior ocorreu há 27 anos na National Gallery em Washington, D.C., e na Mauritshuis, em Haia. Antes disso, a única hipótese de ver algo parecido terá sido no leilão em maio de 1696, em Amesterdão, que dispersou talvez metade de tudo o que Vermeer pintou na sua vida.
No Rijksmuseum, os níveis de luz são mantidos baixos, as paredes são escuras e cada pintura tem espaço para respirar. Os visitantes falam baixo como se estivessem na igreja. Mas, apesar de toda a reverência dada agora ao seu trabalho e de toda a quietude momentânea que as suas pinturas projetam, a vida após a morte de Vermeer tem sido um caminho difícil, saltando da proeminência local para a obscuridade para o estrelato cinematográfico, pela mão de Colin Firth. O trabalho de Vermeer esteve no centro do mais estupendo escândalo de falsificação, bem como do mais espetacular roubo de arte, do século XX. (“O Concerto”, roubado do Museu Isabella Stewart Gardner em 1990 e que não é visto desde então, é uma ausência palpável em Amesterdão.) Vermeer, o homem, tem sido descrito como um paradigma de contenção calvinista, um apaixonado católico convertido e um modelo de empirismo. Quase quatro séculos após o seu nascimento, os especialistas continuam em desacordo sobre as suas intenções, os seus métodos e que pinturas são realmente suas.