26 março 2023 13:46

nuno botelho
Fez algumas das grandes campanhas de publicidade da última década, mas foi o grande ecrã a fazer dele um nome reconhecido pelo público. “Great Yarmouth — Provisional Figures”, sobre aqueles que partiram para o Reino Unido, é o seu mais recente filme. E é um retrato duro de uma realidade talvez não distante
26 março 2023 13:46
Do cinema ao teatro, da ficção ao documentário e à publicidade, Marco Martins é um criador central na atualidade portuguesa. Agora, traz-nos, de Inglaterra, uma visão da dura emigração portuguesa — o filme “Great Yarmouth — Provisional Figures”. Fomos falar com ele. Sobre o filme e sobre o resto.
Ao contrário dos seus filmes anteriores, que eram entidades autónomas, especificamente pensadas para o cinema, este que agora estreia — “Great Yarmouth — Provisional Figures” tem origem num espetáculo teatral de 2018. Como é que nasceram peça e filme, aquela cidade inglesa não devia estar nas suas rotas...
Fui pela primeira vez a Great Yarmouth em 2016. O meu trabalho no teatro tem tido um cunho documental, com atores não-profissionais e o diretor de um festival local conhecia-o e convidou-me a visitar a cidade. Nessa altura tinha começado a haver um grande afluxo de trabalhadores migrantes portugueses para Great Yarmouth, com a crise aberta em 2008, pessoas que não tinham qualquer comunicação com a restante comunidade e com as instituições culturais. A ideia era fazer algo — eu não sabia ainda bem o quê — com esses trabalhadores. E comecei a falar com as pessoas, como sempre faço. Sento-me num café e entrevisto pessoas, falo com elas, tentei ir à fábrica, nunca consegui, mas fui até à porta, muitas vezes, ver como era o movimento, etc. — e veio a ideia de fazer uma peça de teatro com os trabalhadores portugueses. Foi muito difícil, por várias razões. A primeira é que nunca podemos partir do princípio que as pessoas querem que a sua história seja contada, há muitas pessoas que não querem.