3 fevereiro 2023 17:57

samir hussein/wireimage
A monarquia é a forma de governo mais antiga. E a britânica é tão antiga como os males de que padece. Irmãos desavindos, acusações públicas do foro privado, jogos de dinheiro e guerras de poder. Afinal, o que vai na cabeça de quem usa a coroa?
3 fevereiro 2023 17:57
Quando a princesa Diana morreu em 1997, a hipótese de trocar a monarquia por uma república foi discutida em tom sério por alguns comentadores britânicos. A enorme popularidade da “princesa do povo” e a ideia de que fora maltratada pela rainha tinham em fundo a imagem de uma família real antiquada, invejosa da atenção que a princesa recebia e incapaz de perceber como a monarquia poderia beneficiar com ela. Na onda de simpatia pública por Diana, ouviram-se muitas críticas a uma instituição normalmente tida por consensual, e por momentos pareceu que a mudança de regime político já não era totalmente inconcebível no Reino Unido. No final, claro, não houve mudança alguma. A descoberta de que a princesa tinha sido a fonte direta de um livro que expunha as feridas do matrimónio real abalou a sua imagem de santidade. Em devido tempo a sua antiga rival, Camilla Parker Bowles, casou com o então príncipe Carlos, numa cerimónia relativamente modesta a que a rainha não compareceu. Os filhos de Diana foram crescendo, William rumo ao seu destino de rei, Harry compensando o seu papel secundário com atividades lúdicas que de vez em quando provocavam escândalo, como quando apareceu numa festa em uniforme nazi ou quando foi fotografado num jogo de strip poker. Nada de extraordinário. Ele e o irmão casaram e tiveram filhos, e a monarquia continuou.
Duas décadas e meia depois, o filho mais novo de Diana lança ataques aos mesmos alvos de 1997 — a família real e a imprensa que a canibaliza, mas com quem membros dela terão uma relação de cumplicidade. Num documentário da Netflix e numa autobiografia acabada de publicar (“Na Sombra”, ed. Objetiva) bem como em entrevistas dadas a personalidades dos media (Oprah Winfrey, Stephen Colbert), Harry conta pormenores de conversas privadas, denunciando expressamente o seu pai, o seu irmão e outros membros da família por ofensas que vão desde insensibilidade e manipulação até racismo e agressões físicas. É all Harry, all the time, com o tempero de algumas trivialidades (por exemplo, sobre o pénis dele, que sofreu queimaduras de frio no Polo Norte e ainda lhe doía quando foi ao casamento do irmão) numa barragem de publicidade como há muito não se via em conflitos familiares de gente a esse nível.
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