A Revista do Expresso

Massacre de Batepá: história de uma das páginas mais brutais da história portuguesa do século XX

5 fevereiro 2023 9:51

Gerhard Seibert *

História A guerra de Batepá não passou de violência brutal e arbitrária do governador e das autoridades portuguesas contra uma população são-tomense indefesa e inocente

O silêncio durou mais de quatro décadas, o incómodo persiste até hoje. O Massacre de Batepá, em São Tomé, aconteceu há 70 anos

5 fevereiro 2023 9:51

Gerhard Seibert *

O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
o sangue caindo, caindo…
nas gentes lançadas no mar…

Assim começa o poema “Onde Estão os Homens Caçados Neste Vento de Loucura” (1958) com que Alda Graça do Espírito Santo (1926-2010), proeminente poetisa e política são-tomense, eternizou o massacre de fevereiro de 1953 em São Tomé. As atrocidades cometidas por ordem do tenente-coronel Carlos de Sousa Gorgulho (1898-1972), governador de São Tomé e Príncipe, de 1945-53, são também conhecidas por guerra de Batepá, nome do local onde o episódio fatídico começou. De facto, não houve guerra nenhuma, mas uma onda de violência brutal e arbitrária contra uma população são-tomense indefesa e inocente. Gorgulho alegou ao Governo de Salazar reprimir em São Tomé “o primeiro movimento comunista esboçado na nossa África”, enquanto o seu verdadeiro motivo foi “castigar exemplarmente os chefes responsáveis” pela, no seu entender, “abominável ingratidão” perante “um governo que durante sete anos incansavelmente os amparou”.

*Professor no Centro de Estudos Afro-Orientais, Universidade Federal da Bahia e Investigador associado CEI / ISCTE-IUL