A Revista do Expresso

Quantos euros recebeu Camões por ter escrito “Os Lusíadas”?

29 janeiro 2023 8:21

António Valdemar

O valor da tença atribuída a Camões — uma análise comparativa feita por economistas em relação aos salários médios atuais e às tenças mais elevadas de que beneficiaram outros contemporâneos

29 janeiro 2023 8:21

António Valdemar

Camões decidiu regressar a Lisboa em 1567. Trazia consigo o manuscrito de “Os Lusíadas”, para o concluir e publicar. Partiu de Goa desgastado por intrigas, por raivas e por invejas. Foi julgado e condenado por não pagar uma dívida a um agiota. A prisão transformou-o radicalmente. Deixou de ser o homem enérgico e desenvolto que se movimentava quer na roda de fidalgos da Corte quer no Malcozinhado, a mais turbulenta tasca de Lisboa, frequentada por rufias, prostitutas e outros marginais. O retrato desse tempo áureo apresentava-o “de corpo alto de estatura, largo das espáduas, de cabelo ruivo, no rosto sardo, torto de um dos olhos e de entendimento agudo e raro engenho”.

Para conseguir o dinheiro para a viagem contou com a disponibilidade de alguns amigos. Depois de 17 anos no Oriente e em África, desejava voltar a Lisboa. A Índia permitiu-lhe o convívio com o sábio Garcia de Orta (1501-1568), que o honrou com a primeira publicação de versos na abertura do “Colóquio dos Simples e das Drogas”, impresso em 1563 na oficina de Joannes de Endem, em Goa, e com o jovem cronista Diogo do Couto (1542-1616), que lhe preencheu tempos de ócio e registou para a História a realidade quotidiana da vida e da obra do poeta. Camões teve, ainda, outros amigos leais e afetuosos, mas, de resto, a Índia tornara-se “um imenso bolo de mel atacado por um espesso enxame de moscardos vorazes e zumbidores que se atropelavam a devorar quanto podiam”. Em suma: tal como escreveu Camões numa carta, “a Índia era mãe de vilões ruins e madrasta de homens honrados”.