“Now I am become Death, the destroyer of worlds” (“Agora eu tornei-me a Morte, o destruidor de mundos”). Estas palavras, eternizadas na escritura hindu “Bhagavad Gita”, composta por 700 versos, tornaram-se ainda mais simbólicas quando foram resgatadas, num tom de assombro e arrependimento, por Robert Oppenheimer, físico norte-americano que dirigiu o Projeto Manhattan, programa criado pelos EUA para o desenvolvimento da bomba atómica. Oppenheimer sabia que o mundo não voltaria a ser o mesmo a partir do momento em que as superpotências tivessem nas mãos uma arma capaz de arrasar uma cidade, um país, num abrir e piscar de olhos. O “pai da bomba atómica” tinha plena consciência de que o mesmo cogumelo radioativo que estilhaçou a resistência japonesa e precipitou o fim da II Guerra Mundial iria também transfigurar perigosamente o xadrez geopolítico, colocando toda a humanidade em xeque.
Desde o final da Guerra Fria, após a implosão da União Soviética, assistiu-se a um abrandamento da escalada nuclear, mas atualmente o stock global de ogivas continua a ser verdadeiramente assustador, sobretudo pelo facto de o poder destrutivo ter aumentado astronomicamente através das bombas de hidrogénio. E o conflito entre a Rússia e a Ucrânia só veio reavivar o temor de que um holocausto nuclear deixe de ser um cenário apenas explorado pela ficção científica e se torne uma realidade.
EUA e Rússia detêm mais de 90% das ogivas nucleares
De acordo com dados referentes a 2022 e divulgados pela Federation of American Scientists, existem atualmente mais de 13 mil ogivas na posse de nove potências nucleares — mais de 90% pertencem à Rússia e aos Estados Unidos. O arsenal nuclear russo conta com 5977 ogivas e está em crescimento, apesar de o Kremlin ter assinado com a Casa Branca os tratados START I, em 1991, START II, em 1993, e New START, formalizado em 2010 e que vigora até 2026, para a redução de armas estratégicas. Os EUA possuem 5428 bombas nucleares, embora tenham emagrecido o seu stock ao longo dos últimos anos. A China consolidou-se como a terceira potência e tem 350 armas nucleares, número que tem vindo a crescer. A França segura a hegemonia nuclear na Europa Ocidental, com 290 ogivas, seguida pelo Reino Unido, com 225. Na tensão entre o Paquistão e a Índia, os dois vizinhos mantêm uma marcação cerrada, com 165 e 160 ogivas, respetivamente. Por fim surge Israel, com 90 armas nucleares, e a imprevisível Coreia do Norte, com 20 ogivas, que podem ser colocadas nos mísseis balísticos que o regime de Pyongyang não pára de testar. O Irão pode juntar-se a esta exclusiva liga das nações, face à ausência de um acordo internacional que limite o desenvolvimento do seu programa nuclear, que tem em curso há décadas.
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