A Revista do Expresso

Os novos salteadores de palácios esquecidos: quem são estes exploradores e porque é que o fazem?

18 dezembro 2022 16:30

Luís Pedro Cabral

ricardo silva

​Mosteiros, mansões, solares, parques aquáticos ou mesmo cemitérios de automóveis abandonados. Em Portugal há um sem-fim de lugares desconhecidos que fazem as delícias de uma nova tribo

18 dezembro 2022 16:30

Luís Pedro Cabral

Às vezes, há muros mais altos do que o olhar. Há vidas invisíveis do outro lado, noutro tempo, numa outra dimensão. É como se nas ruínas as memórias se reconstruíssem e o abandono nunca tivesse encontrado verdadeiramente estes lugares. Há uma estranha beleza, uma estética de despojo, quase esotérica. Tudo parece ausente. Tudo parece não ser. Às vezes, a mesa está posta, as camas feitas, as roupas no closet, a almofada na poltrona, os elementos na devida ordem, num sortilégio qualquer, o absurdo de tudo se encontrar no seu lugar, em absoluto contraste com a solidão do espaço, que o vazio de malas de viagem torna incompreensível.

Às vezes, já só restam os esqueletos arquitetónicos dos edifícios, nas suas gradações sociais, em que os destroços fizeram usucapião. Às vezes é um palácio, um palacete cercado de campo, cemitérios de carros de outras eras, casas de família, solares brasonados, mosteiros, conventos, sanatórios, cemitérios, hospitais, centros comerciais, cinemas, salas de espetáculo, aviões, unidades industriais que o tempo desativou, moradas de alguém, sitiadas por silvas. Depois de um caseiro inesperado, os cães em geral, os selvagens em particular, os ocupas mal-intencionados, tábuas instáveis, vidros, pregos, seringas (mais raro), os alçapões que a destruição foi criando nos lugares e mais uma infindável categoria de imprevistos, as silvas são o inimigo número um dos exploradores de património.