A Revista do Expresso

“Não vejo pensamento estruturado do Governo na política cultural”: Entrevista a António Pinto Ribeiro, o homem que podia ter sido ministro

16 dezembro 2022 23:10

Ana Baião

Ana Baião

Fotojornalista

Corre a anedota de que não foi ministro da Cultura porque José Sócrates se enganou no António Pinto Ribeiro a que telefonou. Ele não acredita nisso e diz que não tem perfil para o cargo, por ser “demasiado independente”. Acabou de organizar uma das exposições que marcou 2022 — “Europa Oxalá” — e foi consultor para a programação artística e cultural de Évora, Capital Europeia da Cultura em 2027

16 dezembro 2022 23:10

Ana Baião

Ana Baião

Fotojornalista

C

ontido, discreto, mesmo assim, nada consensual. Há 40 anos que António Pinto Ribeiro navega as águas culturais portuguesas, transbordando para outras geografias, com uma atração especial pelo vasto Sul, de África ao Brasil. Mas foi a norte que começou a juntar as letras, a fazer-se leitor, sem sonhar que acabaria nos corredores dos museus e das galerias. Um norte de um rio Douro com cheiro a giestas e costurado no feminino, ao ritmo da poesia de Vasco Graça Moura, que ainda lhe ressoa nas memórias privadas. As recordações desse percurso nos ajudam a reconstruir os bastidores de um tempo em que a Cultura portuguesa era uma festa, tudo parecia permitido e era vivido com um entusiasmo que Pinto Ribeiro diz já não ver. Criou a Culturgest e ficou 11 anos na Gulbenkian, até que — gesto raro — saiu em ruptura com o então presidente da fundação. Em conversa com o Expresso, abre as portas de casa, fala da infância, da importância do Frágil, da necessidade de descolonizar os museus e avisa que é chegado o tempo de fazer escolhas. De correr riscos.