A Revista do Expresso

Michael Wood: "Ninguém acha que um país como a China pode passar para um sistema de governo democrático ao estilo ocidental"

23 outubro 2022 8:35

Luís M. Faria

Jornalista

geraint lewis/eyevine

Xi Jinping consolida o poder a nível interno. A China cresce e assume-se como uma superpotência capaz de rivalizar com os EUA a nível mundial. E o historiador Michael Wood é uma das vozes mais habilitadas para analisar o gigante asiático

23 outubro 2022 8:35

Luís M. Faria

Jornalista

Se se confirmar o que está previsto (este texto foi escrito antes do fim de semana passado), o 20º Congresso do Partido Comunista da China, aberto no dia 16, domingo, reelegerá Xi Jinping para um inédito terceiro mandato como Presidente do país. O habitual espetáculo de milhares de delegados de meia-idade ou mais velhos, de fato preto e com o cabelo pintado da mesma cor, assume assim, desta vez, uma natureza histórica particular. A propósito do evento, o Expresso entrevistou Michael Wood, um historiador e documentarista britânico cujas obras incluem “A História da China” (Ed. Temas e Debates, 2021), publicada na sequência do documentário sobre o mesmo tema apresentado na BBC.

Nas últimas décadas, a China tornou-se a segunda maior potência e possivelmente a maior economia do mundo. Como vê a atual situação política e social no país?

Não vou lá desde um mês antes de a epidemia da covid começar, quando fiz um filme sobre a viagem do poeta Du Fu, da dinastia Tang. Antes tínhamos feito outros sobre as reformas de Deng Xiaoping, que mudaram a política e a economia chinesas em aspetos fundamentais, por exemplo renunciando às comunas agrícolas. Há rumores sobre dissensões no Partido Comunista. Uma antiga membro acusou-o de ser um partido zombie. Acho que ninguém sabe realmente o que se passa, até porque o funcionamento interno do Partido Comunista é difícil de avaliar. Mas a minha perceção é que a China está a ficar cada vez mais ditatorial. O controle sobre a sociedade tornou-se mais agressivo. Até 2016 a atmosfera era descontraída. Nunca se via polícia em público. Há muito mais em Inglaterra. Mas, entretanto, a tecnologia de reconhecimento digital foi instalada em todo o lado. Por outro lado, as regras foram apertadas nos cartões de identidade. No cartão está tudo. Ser um bom cidadão não é apenas ficar sentado a ouvir as máximas do imperador. Se não se pagar os impostos no prazo, ou isto ou aquilo, vem no cartão.

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